Opinião

…e estou cansada…

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Desde há alguns anos que me tenho apercebido de uma situação um pouco desconcertante e não consigo adiar mais a discussão deste tema. Qualquer pessoa que visita com frequência as redes sociais sabe que é quase impossível criar conteúdo ou fazer uma piada sem ter uma multidão a acusar o autor de ser isto ou aquilo. Rapidamente percebemos que, hoje, mais do que nunca, é necessário ter muita cautela antes de publicar um post, ou até mesmo um artigo.

As redes sociais sempre foram o palco da livre comunicação, no qual todos têm uma voz e podem expor as suas opiniões – por mais estapafúrdias que sejam. Porém, ultimamente, estes espaços de comunicação livre tornaram-se insuportáveis e tóxicos, nos quais a nossa opinião é constantemente vigiada e facilmente atacada caso não vá ao encontro das opiniões da maioria. Como é óbvio, nem todas as pessoas concordam com tudo o que é escrito e têm o direito de contrariar o que leem, mas antes de publicar algo fico com ataques de ansiedade, pois sinto que estou num tribunal, em que tudo o que faço é julgado por todos e uma simples piada pode ser facilmente levada a extremos. 

Este efeito é fruto do que é por muitos identificado como o “politicamente correto”. Se bem que, após alguma investigação, concluo que este termo é erroneamente aplicado, visto que a questão não é política, mas sim semântica. Posto isto, eu propunha o termo “socialmente aceitável”, já que é um manual de instruções sobre as palavras que podemos usar, como as podemos aplicar e a situação e altura em que podemos utilizá-las.

Antes de começar a fazer de advogada do diabo, gostaria de explicar que eu reconheço a boa intenção da aplicação destas regras, que se criaram para defender da ofensa, do mau trato e da descriminação. Obviamente, estamos à vontade para nos expressar, mas não à vontadinha. Há limites que não devem ser ultrapassados, tais como o incitamento à difamação, à injúria, à violência ou à fraude. Todos conhecemos formas de expressão que reputamos, tais como a mentira, o insulto, o discurso de ódio e a discriminação. Porém, a liberdade de expressão não permite os cidadãos expressar as opiniões que tenham, por mais controversas que sejam? 

Do meu ponto de vista, o mais apropriado é permitir a livre expressão a todos os cidadãos, por mais polémicos e diferentes que sejam relativamente a nós. De pouco serve reconhecer as opiniões com as quais concordo se não respeitar o direito dos outros de exprimirem opiniões contrárias, independentemente do quão desagradáveis, incómodas, sujas e escandalizantes possam ser. Não se esqueçam que tolerar uma opinião não significa aceitar o seu conteúdo, mas sim aceitar a sua existência e respeitá-la. Todas as opiniões devem ser permitidas; o racista, o machista e o homofóbico têm o direto de defenderem as suas crenças – desde que, obviamente, não ultrapassem os limites acima mencionados. O direito do homem de vocalizar ideias ofensivas, discriminatórias, ou controversas são necessárias para combatê-las. Nós precisamos dessa liberdade de expressão precisamente para proteger e preservar o expressarmo-nos, mesmo – e sobretudo – quando a ideia é incómoda. 

Atenção: Não me entendam mal, eu sou contra todas essas formas de expressão e acho que é lamentável que algumas pessoas ainda tenham a mente tão fechada e ideias tão retrógradas. No entanto, estão no seu direto de assim o pensarem; não nos cabe proibir, mas sim contrariar. Então, se não devemos inibir ou proibir as ideias mais controversas defendidas por essas pessoas, o que podemos fazer para lhes mostrar uma nova perspetiva?

Simples: debates! É fundamental reconhecer a importância da discussão de ideias, que é necessária para a evolução da mentalidade das pessoas. Isso tem provado ser uma tática bem sucedida ao longo dos séculos, em que as ideias foram sendo discutidas e muitas ideias aceites no passado são hoje refutadas pela maioria. Só através de longos debates temos a oportunidade de conseguir persuadir as pessoas a considerarem outras formas de pensar, com o apoio de factos e argumentos. 

Se continuarmos a varrer os comentários mais impróprios e incómodos para debaixo do tapete, não os fazemos desaparecer e o mundo não fica melhor; muito pelo contrário, fica apenas a ilusão de um mundo melhor. Se me perguntarem se prefiro uma ilusão perfeita a uma realidade imperfeita, eu escolho sempre a verdade, por mais feia que seja. 

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