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Artigo de Opinião

O desejo pela utopia e o receio da distopia

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É uma imagem bonita, não concordam? Tanto a nível estético, como também simbolicamente, uma vez entendido o contexto. Não podemos negar que, ao longo dos anos, a mentalidade humana evoluiu e as pessoas estão cada vez mais dispostas a compreender e a aceitar diferentes formas de vidas e outras realidades. Porém, ainda existem muitas pessoas com ideias retrógradas e que pretendem embutir as suas opiniões como sendo as únicas aceitáveis.

Por este motivo, algo como a imagem acima exibida não pôde ser concretizado; porque, apesar de ser uma simples iluminação, a verdade é que a mensagem que passa é fortíssima e, para este grupo de pessoas, demasiado ameaçadora aos seus ideais. Dado a enorme importância que a comunidade LGBT+ tem na minha vida, eu não consegui ficar indiferente à notícia mais discriminatória e insultuosa que tive o desprazer de ler este ano. 

Nesta última semana, a Alemanha foi a anfitriã do jogo entre a sua seleção e a húngara e pretendia iluminar o estádio Allianz com as cores do arco-íris, como manifestação de apoio à comunidade LGBT+ húngara em relação a uma lei aprovada pelo seu governo que proíbe a promoção de conteúdos de orientação sexual a menores de 18 anos. Como previsto, este governo ditatorial opôs-se à iniciativa alemã e a UEFA acedeu ao apelo do governo húngaro ao recusar a realização da ideia do povo germânico, visto que o jogo seria visto por vários adeptos húngaros que ficariam, desse modo, expostos a essa mensagem. 

Face a esta injustiça, foram muitos os países da União Europeia que condenaram igualmente a lei húngara, naquilo que consideram ser um atentado à liberdade sexual; um direito universal que demorou muitos anos a ser conquistado e que está, por este motivo, cada vez mais em risco. É por este motivo que a “neutralidade” do governo português me frustrou ainda mais.

Ao contrário dos treze países que subscreveram esta denúncia, o governo português, que também preside a União Europeia, optou por não subscrever a carta de protesto à descriminação por parte do governo húngaro; o facto do Ministro de Negócios Estrangeiros ter considerado a atitude da Hungria como “indigna”, não foi o suficiente para fazer com que Portugal tivesse a sua assinatura na carta. O primeiro-ministro português justificou este contraste de opiniões como o dever do governo de permanecer neutro numa situação em que existe conflito entre outros países da União Europeia. Apesar de ter realçado o apoio que o governo português oferece à comunidade LGBT+, este parece não estar disposto a demonstrar solidariedade para com aqueles que não têm esse mesmo apoio por parte dos seus representantes.  

Do meu ponto de vista, a postura do governo português é lamentável e vergonhosa. Ainda que muitos opinem ser uma atitude inteligente a nível político, vale a pena não esquecer que, mais importante que um assunto político, o que está em causa é a falta de respeito e o atentado a um dos direitos mais importantes do ser humano. Deste modo, é injustificável e inaceitável a ideia de permanecer neutro ao apoio de uma comunidade que celebra e luta diariamente por um direito humano que está constantemente a sofrer ataques; realidade essa que se manifesta em todo o mundo, até mesmo em Portugal.

Por fim, gostaria apenas de louvar a atitude do guarda-redes da seleção alemã, Manuel Neuer. Após o seu país ficar com as mãos atadas a nível político, o jogador abraçou mesmo assim a iniciativa da sua nação, utilizando a braçadeira com as cores do arco-íris. Pessoalmente, gostava que a nossa seleção tivesse adotado uma posição semelhante à de Neuer, uma vez que representa o nosso país no Europeu. Quando está em causa o atropelo de um direito importantíssimo, nada deveria ser impedimento de protesto, e a descriminação sexual é claramente visível no mundo do futebol, como se pode verificar pela ausência de jogadores homossexuais (assumidos), e já que o principal insulto por parte dos adeptos é a palavra “gay”, o que reforça a ideia de que ter uma orientação sexual diferente é sinónimo de defeito.

Espero que nunca deixemos de nos revoltar contra qualquer ataque à liberdade que só conseguimos obter à custa de imensos sacrifícios. Se todos tivermos que abandonar os nossos valores e direitos em troca de apoio político e económico, mesmo que isso justifique manter relações com países de ditadura e mentalidades retrógradas, temo sinceramente pelo futuro perigoso que avisto.

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