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Opinião

Os mais conturbados anos das nossas vidas

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Com um sentimento otimista e expectante, pintamos a admissão na faculdade como uma fantasia na qual possuímos total independência, formamos as nossas mais duradouras amizades e desfrutamos das melhores festas e convívios.

Tal conceção planificada por muitos, foi afastada da realidade assim que a pandemia se intrometeu nas nossas vidas, tendo as confraternizações académicas dado agora lugar a consecutivos serões de Netflix. Encontrando-se este novo mundo em ação, assistimos à inclusão na faculdade a escapar-nos entre os dedos, esbarrando-nos com a solidão e desmotivação consequentes.

O nosso pior erro? Confiar devotamente nesta história que nos é vendida desmedidamente. Não por carência de fidedignidade, mas por cada vivência ser uma vivência. Porque os “melhores anos” não possuem data ou época fixa, a identificação instantânea com o curso e colegas que o incorporam nem sempre se sucede e, especialmente, porque o processo de inserção diverge de indivíduo para indivíduo.

A pandemia veio despertar, justamente, esse sentimento mais azedo, forçando-me a repensar nesta pressão imensa que, fruto da farsa a que somos expostos, se une a uma sensação de culpa e desavença com o nosso eu interior, somente porque a narrativa descrita na génese do semestre não se molda à nossa experiência.

A sucessiva comparação com as vivências dos demais é o que verdadeiramente nos desola. Vidrados nos relatos da generalidade dos jovens universitários, ambicionamos abarcar essa multidão com tal força que nos perdemos na inquietação e receio.

Ainda sendo o curso errado, as amizades disfuncionais ou a situação pandémica atual são os principais autores de tamanha amargura. Jamais existirão constantes suficientes para atingir o embaraço e ansiedade que é não gozar de um percurso universitário ideal.

É natural o nosso trajeto não se espelhar no idealizado e amadurecer por entre mudanças de planos no decorrer da viagem. Descabido é estagnar os “melhores anos” a uma mera fase da nossa existência, quando o caminho a percorrer é ainda tão longo.

 

Artigo da autoria de Sara Terroso