Artigo de Opinião

Jovens, uni-vos

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Todos sentimos, a certa altura da nossa vida, que talvez tenhamos de fazer parte de alguma coisa para nos sentirmos realizados. Integração é uma palavra que, à partida, carrega uma conotação positiva. Mas melhor ainda é o adjetivo a ela associado: estar-se integrado ou integrada. Se nos sentimos integrados, recebidos sem facas na mão, o sentido dos dias vai tomando rumo, trazendo-nos à consciência a grande sorte que é ter o nosso nome em alguma placa, ainda que fictícia.

Escrevo no plural pela razão que me impeliu a refletir sobre este assunto: o nosso papel, o dos jovens, na sociedade globalizada que cada vez mais tende a empurrar-nos para os bastidores e não para o palco. Marx dizia que a História do Homem é a história da luta de classes, ilustrando rapidamente a preponderância que se tem para construir um sistema social hierarquizado, onde uns mandam e outros obedecem, onde uns vivem melhor e outros pior. Entre nós, os jovens, e os mais velhos, existe também uma certa luta, não de classes, mas sim no sentido de reajustar a influência que os membros de cada “grupo” podem ter no cenário político. Os mais velhos, os que já sabem “como a coisa funciona” e que “já têm muita experiência”, monopolizam o espaço de ação política, abrindo portas, de vez em quando, aos mais jovens. Mas nada de abusos: o lugar das ideias novas é na utopia, à qual nem vale a pena dedicar muita atenção.

Mas, afinal, qual é o problema de ter no poder o grande sábio, o que já foi diretor executivo antes de ser ministro, o que já conta com mais de vinte anos a pagar as quotas do partido sem nunca ter questionado a estagnação ideológica dos seus militantes? Não quero com isto condenar quem se vincula a um partido – eu própria faço parte de um desde tenra idade – mas apenas chamar a atenção para a necessidade de dar voz às juventudes partidárias e, igualmente fundamental, à juventude não partidária.

Esta última afirmação conduz-me a outro ponto que merece ser posto em cima da mesa: a voz juvenil não tem de estar sob a alçada de orientações partidárias. É necessário dar lugar e condições de expressão às camadas jovens que se politizam de outras formas, criando assim um espaço de debate heterogéneo, onde cada um possa, livremente, construir opiniões e apresentar alternativas ao sistema atual. A propósito da necessidade de incluir todos os jovens na política, sejam eles de algum partido ou não, apresento, muito resumidamente, uma tese que dará trabalho aos mais curiosos sobre a sua possibilidade de aplicação prática à realidade com que nos confrontamos hoje. Simone Weill, na Nota sobre a Supressão Geral dos Partidos Políticos, assegura que a verdadeira política só poderá existir quando os partidos saírem do caminho. Porquê? Porque cada organização partidária tende a censurar, implicitamente, os seus seguidores para que as palavras proferidas por eles estejam sempre de acordo com as bases ideológicas do partido.

Pessoalmente, considero que o idealismo é saudável para os jovens; temos liberdade para pensar em coisas que os senhores de fato e gravata jamais perderiam tempo a colocar nas suas agendas. Ingressar num partido, seja ele qual for, permite-nos contribuir, enquanto jovens cidadãos, para o cimentar das suas bases e linhas de ação. Não fazer parte de nenhum partido e ter voz ativa é uma alavanca para a subsistência de valores mais humildes: a individualidade, o não pertencer aos mesmos de sempre, pode ser um aceno de esperança para todos aqueles que queiram falar, mas não falam porque não erguem em punho nenhuma bandeira.

 

Artigo da autoria de Patrícia Freitas

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