Opinião

Jogos Sem Fronteiras: a competição do passado que faz falta no presente

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Attention, prêts?” era o que dizia o conhecido árbitro belga, Denis Pettiaux, antes de apitar para o arranque de mais uma prova dos Jogos Sem Fronteiras (JSF). O certame distribuído pela European Broadcasting Union (EBU) e que chegou a Portugal através da RTP foi um tremendo sucesso durante a sua exibição e marcou várias gerações. Com o propósito de unir a Europa, este tornou-se numa excelente plataforma para partilhar a cultura dos diversos países participantes e aproximá-los numa altura em que ainda não se falava de voos low-cost, nem era possível conhecer com tanta facilidade o velho continente.

Estávamos em 1965 quando foi para o ar a primeira edição dos Jogos Sem Fronteiras. A cada emissão, uma cidade levava uma equipa para representar o seu país numa série de jogos, que colocavam à prova as aptidões físicas e mentais dos concorrentes. Muitas vezes estes também davam a conhecer a cultura da cidade anfitriã do concurso.

Ora, o acesso a culturas diferentes da nossa, o contacto com outros povos, desenvolve algo que cada vez é mais escasso na nossa sociedade: a tolerância. Numa altura em que se começam a abrir feridas no projeto europeu, como o ‘Brexit’, a viragem autoritária de países como a Hungria e a Polónia e a iminente repetição desses casos noutras nações, passa a haver a necessidade de proceder a primeiros socorros para ser possível cicatrizá-las.

Apostar nos JSF configura-se então como uma importante estratégia para unir a Europa novamente, ainda para mais numa época em que nos vemos a braços com uma pandemia. A Covid-19 trouxe bastantes constrangimentos na mobilidade dentro da Europa, o que nos afastou, para além de ter condicionado diversos aspetos da nossa vida. Havendo restrições quanto às viagens, a missão de levar a cultura de outros povos até nós pode passar pelo horário nobre da nossa televisão.

A cada dia que passa precisamos também de mais entretenimento, até porque este setor não tem vivido tempos fáceis. O adiamento de muitas produções e o cancelamento de festivais e grandes eventos têm feito pousar sobre nós uma grande onda de aborrecimento, o que pode ser minimizado através da televisão – a nossa boa e velha amiga – e de conteúdos como os Jogos Sem Fronteiras.

Além de tudo isto, há ainda que referir a importante componente desportiva que o certame possui. Visto que Portugal não cumpre as recomendações internacionais para a prática de exercício físico e é um dos 11 países mais sedentários do mundo, seria importante as autarquias apostarem em projetos como os JSF ou derivados, de modo a promover um modo de vida mais ativo junto da população. Veja-se ainda que os jogos são uma excelente alternativa às competições de desporto federado, que são vistas como inacessíveis para muita gente. É uma oportunidade para dar uma espécie de “experiência olímpica” a pessoas que de outra forma não poderiam sequer viver algo parecido.

Em suma, existe algo mágico em volta dos Jogos Sem Fronteiras que faz falta nos dias de hoje. A competição, o entretenimento, os valores europeus, o intercâmbio de culturas, são tudo fortes razões para o histórico concurso voltar à antena, principalmente, no contexto atual em que vivemos, onde reina a intolerância e crescem tensões sociais. O programa que outrora marcou várias gerações deve agora fazê-lo com as gerações Z e Alpha.

Artigo da autoria de André D’Almeida

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