Opinião
Lugares-comuns
Diariamente proferimos e somos bombardeados com lugares-comuns, sejam provérbios ancestrais repetidos em loop pelos nossos avós, expressões que se popularizaram, frases motivacionais de trazer por casa, como a omnipresente em tempos pandémicos “vai ficar tudo bem 🌈”, ou perfis nas redes sociais que apresentam como profissão “trabalhar para o bronze”.
Mas o que será que nos conduz aos clichés? Será a necessidade de pertença a um grupo, a peer pressure ou a escassez momentânea de originalidade? Serão clichés por transmitirem verdade e sabedoria popular valiosa ou por serem simplesmente estúpidos?! Não tenho respostas absolutas para estas questões. Acredito que será uma mescla de todas e, alguns lugares-comuns são “TOP”, outros são do “arco da velha”, mas “gostos não se discutem”!
Desde muito novos possuímos um desejo inato de nos integrarmos na sociedade. Imbuídos desse desejo, pedimos aos nossos pais os ténis da moda e quando olhamos ao nosso redor corremos o risco de encontrar meia dúzia de miúdos com o mesmo corte de cabelo e com roupas deveras semelhantes – “o pior cego é aquele que não quer ver”. Este desejo também pesa na balança quando publicamos uma fotografia num local instagramável, ou após tirar a carta de condução, ou, atualmente, após ser vacinado contra a COVID-19.
Atravessamos, à data, a quarta vaga da COVID-19 em Portugal e a estratégia principal do Governo constitui o incentivo à vacinação e à testagem em massa. Setores como os da restauração e hotelaria carecem de uma urgente e vigorosa recuperação económica que ainda não foi viável desde a primeira vaga. Almejando o melhor dos dois mundos, uma das medidas divulgadas no passado dia 8, no final da reunião do plenário do Governo, foi o alargamento das funções do certificado digital COVID-19, que passa a funcionar como um passaporte de acesso a restaurantes e estabelecimentos turísticos e de alojamento local, nos concelhos de risco elevado e muito elevado. Esta é uma estratégia que, a longo prazo, visa a tão ambicionada e importantíssima restauração da livre circulação na União Europeia. Na sequência destas medidas, vários pseudo-influencers ficaram indignados quando perceberam que a sua fotografia durante/após a vacinação não serviria como passaporte, somente o certificado digital!
Segundo o PÚBLICO, uma das táticas para incentivar a vacinação na Indonésia e combater o ceticismo da população, passa pela inclusão de influenciadores das redes sociais no grupo prioritário de vacinação. Gerou bastante celeuma, uma vez que, na altura em que a medida foi anunciada, o número de doses administradas ainda era limitado e os restantes países restringiam os grupos prioritários a idosos e profissionais de maior risco de infeção por SARS-CoV-2.
Ora, em Portugal os noticiários têm frisado que ainda existe alguma relutância em relação à vacinação por parte da população mais jovem. Estamos a falar de uma geração de indivíduos que nunca souberam o que era poliomielite, rubéola ou tétano, já que tiveram o privilégio de cumprir o Plano Nacional de Vacinação desde recém-nascidos. Portanto, hoje, mais do que nunca, é preciso apelar ao bom senso desta faixa etária, de todas as formas possíveis, mesmo através de pseudo-influencers ou de lugares-comuns, para que esta quarta vaga não atinja proporções tão alarmantes quanto a terceira e não haja uma quinta.
“Quem ri por último, ri melhor” e, no fim, quem vai vencer somos nós enquanto população unida e sensata, e não a COVID-19.
Artigo da autoria de Mariana Batista Maciel