Artigo de Opinião

CNN – canal nada de novo

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É a mudança mais significativa dos últimos anos no panorama televisivo e jornalístico em Portugal. A 22 de novembro, a CNN vai instalar-se em Portugal, nos estúdios da TVI24, e passar a ter residência fixa não só em Nova Iorque, Chicago ou Hong Kong, mas também na cosmopolita Queluz de Baixo.

Hoje em dia, ligar a televisão é ver mais do mesmo, num panorama em que a informação está mimetizada e em que os canais se vigiam compulsivamente, de forma a não destoarem demasiado uns dos outros. A minha dúvida é: será mesmo este novo canal uma mudança significativa ou apenas uma alteração de logótipo?

Num Portugal com cada vez mais licenciados e especialistas competentes, empresários de renome e talentos jornalísticos, a CNN opta pelos mesmos homens, de meia-idade, que fazem do comentário profissão, da imparcialidade um desconhecido e da análise uma incógnita

A CNN aumentou significativamente os estúdios, renovou a fachada, mas parece que manteve os móveis antigos e nem lhes limpou o pó. Apresenta-se como concorrente ao mesmo target da SIC Notícias mas esquece-se de que a TVI tem pautado mais a sua linha editorial pela aproximação à CMTV, tornando o infotainment e a criminologia o centro dos noticiários.

O que mais me choca é o painel de comentadores que tem sido revelado aos soluços. No desporto, a análise tática e as tão cativantes e apaixonantes histórias de fundo dos pequenos clubes e jogadores, que meios como o Público ou o Canal 11 tão bem exploram, são chutados para canto – Rui Santos é a cara escolhida, figura que estava há 17 anos na SIC Notícias. Na política, Pacheco Pereira transita da TVI24. Sebastião Bugalho é outro dos selecionados, uma alma velha num corpo novo, nunca tendo feito nada além de comentar. O seu colega de espaço de opinião, Sérgio Sousa Pinto, é mais um polémico comentador que nem teve que saltar da poltrona para continuar a ter espaço de antena. Miguel Relvas é outra personalidade a quem vai ser dada destaque mas de quem desconheço características que possam trazer algum tipo de novidade ou análise acutilante e pertinente. Quanto ao ambiente, e tendo presente o facto de que as alterações climáticas são o maior desafio que a humanidade enfrenta atualmente, imagino que nem um “minuto verde”, de manhã bem cedo ou de madrugada, lhe seja dedicado.

Quando o país e o jornalismo nacional anseiam com sufoco por uma lufada de ar fresco, a CNN Portugal parece estar pronta a apresentar mais um projeto à la TVI

Este modelo está exausto e é anacrónico. Peca por excesso de “achómetro” e por deficiência de debates, da opinião do público, de conferências, investigações, explicações, contextualização e, acima de tudo, educação e escrutínio. Num Portugal com cada vez mais licenciados e especialistas competentes, empresários de renome e talentos jornalísticos, a CNN opta pelos mesmos homens, de meia-idade, que fazem do comentário profissão, da imparcialidade um desconhecido e da análise uma incógnita. Há políticos no ativo dedicados simultaneamente ao comentário. Em período eleitoral, discute-se quem será o vencedor. Em período pós-eleitoral, antecipam-se as eleições seguintes. Se não houver derrotado, inventa-se um.

Estas críticas não são novas, mas são necessárias. O problema teima em persistir e parece renovar-se constantemente. António Barreto, no Diário de Notícias, e Francisco Caetano, no Jornal Universitário do Porto, escreveram artigos extremamente inteligentes e completos sobre este tema e que apenas pecam por algum exagero.

Nuno Santos, diretor do novo canal de informação, afirmou, em relação aos critérios que presidiram à escolha dos futuros comentadores da estação, o seguinte: “Privilegiamos os espíritos livres, não as ligações partidárias. Criei o modelo esquerda-direita há 20 anos na SIC Notícias, mas há nele um evidente anacronismo”. A declaração não podia ter sido mais irónica. Quando o país e o jornalismo nacional anseiam com sufoco por uma lufada de ar fresco, a CNN Portugal parece estar pronta a apresentar mais um projeto à la TVI.

Artigo da autoria de João Paulo Amorim

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