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Crónica

Trocar de telemóvel: uma grande chatice

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Quando compramos um telemóvel estamos cientes de que, num futuro próximo, este será trocado por uma versão mais recente. Contudo, esta consciencialização não nos impede de criar um laço afetivo com o aparelho. Três anos, sobretudo em idades mais jovens, é um período enormíssimo. Fazendo uma rápida introspeção, facilmente percebemos que, durante esse tempo, vivenciamos uma panóplia de acontecimentos que nos provocam os mais inúmeros sentimentos.

Neste sentido, o telemóvel é uma espécie de confidente. Um amigo que nos guarda memórias, em forma de fotografias e mensagens, mas sobretudo alguém que partilha essas experiências connosco. É esta afinidade que faz com que o processo de transição de telemóvel seja tão angustiante. Quando trocamos de telemóvel, estamos a dizer adeus a esses tempos. A dizer adeus àquela memorável noite de bebedeira com os amigos, àquela vez em que um deles, recém-encartado, nos levou a passear, àquela vez em que vimos o Marcelo na rua, dizer adeus a todos os amores que passaram por aquele pedaço eletrónico. Estamos a despedir-nos de uma caminhada onde fomos tristes e felizes, chatos e divertidos, impacientes e calmos, simplesmente estamos a dizer adeus a um pedaço de nós próprios.

É claro que, nos dias de hoje, com um simples clique, transferimos todas essas fotos e mensagens para o nosso novíssimo Iphone com 6 câmaras, 128 gigas de memória, Face, Finger e Foot ID, mas não é a mesma coisa. Para além disso, a metodologia inerente à compra de um novo telemóvel é, no mínimo, cansativa. Analisar preços, comparar esses mesmos preços na ampla gama de lojas existentes, averiguar os descontos existentes nesses estabelecimentos… Depois, “espera aí, que tenho um cartão de oferta que o primo Pedro me deu no Natal”! Ai, e “espera aí, que também tenho pontos”! Com tantas variáveis, em vez de procurar um novo “télé”, mais parece que sou o Professor a orquestrar um novo assalto.

No fundo, trocar de telemóvel é, resumindo numa palavra, chato. É, de facto, um processo fastidioso, que não só envolve imenso tempo, como também bastante dinheiro. Porém, é inevitável. Como tal, resta-nos tirar o melhor proveito desta ferramenta enquanto podemos. Antes que vicie ou caia pela décima vez ao chão, e dessa vez sim, efetivamente, já não dá para escrever, já que o “p” agora é o “s” e o “2” o “8”; antes que o percamos – porque às vezes acontece, não a toda a gente, mas acontece- ou que, por uma ou outra razão, acabe por deixar de funcionar.

Quando esse momento chega, resta-nos dizer “até sempre” ao melancólico preto que cobre todo o ecrã, ir ao mealheiro e aplicar o dinheiro reservado para um dos nossos mais inimagináveis sonhos num novo telemóvel. Este é o ciclo da vida.

 

Artigo da autoria de José Miguel Dantas

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