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Artigo de Opinião

No frente a frente, Rio não virou as costas a Ventura

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A pergunta após um debate é sempre a mesma: “Quem venceu?”. Uma discussão desnecessária e falaciosa, que influencia o próprio comportamento dos políticos nos debates. Um confronto de ideias entre quem lidera e legisla um país não deve ser encarado como um combate, uma escolha entre matar ou morrer. Todos os partidos lutam por um objetivo comum: o desenvolvimento de Portugal. Na ideologia é que diferem.

Mas não foi isso que aconteceu no debate de ontem, entre Rui Rio e André Ventura. O pouco tempo e a falta de noção dele abriram um poço para o líder do PSD. Rui Rio não se dá bem com a brevidade dos debates. Disse, e bem, que o Chega é radical, instável e que os apoios sociais não podem ser totalmente cortados, mas cometeu um erro crasso: limitou-se a responder às perguntas e acusações de André Ventura. E transformou as propostas radicais do adversário em propostas moderadas. Felizmente, foi apenas o primeiro debate e há margem para mudar de estratégia. Como aspirante a primeiro-ministro, devia ter explicado as suas próprias ideias. Falar com André Ventura é o mesmo que falar com uma parede. Não leva a lado nenhum, por mais que se insista.

Já Ventura é uma metralhadora falante, mas com um discurso completamente vazio. Ao longo do debate, André Ventura transmitia a sensação de que estava a falar muito mais tempo do que Rui Rio. Olhando para os cronómetros, não era esse o cenário. Limita-se aos ataques e às bocas. Não acho que seja esta a forma mais digna de estar na política.  Ainda nenhum político conseguiu ter uma estratégia adequada para enfrentar o líder da extrema-direita portuguesa. Não é difícil, como demonstrou Marcelo nas Presidenciais. Basta um mínimo de estudo e preparação, sem perder a calma e ser arrastado para as armadilhas.

Acima de tudo, há um problema com o modelo de debates escolhido. Não são debates, são um frente a frente. É dedicado tanto tempo aos confrontos como aos comentários. Deixadas à mercê dos candidatos, as conversas esgotam-se em miudezas. O foco deve estar nos temas centrais que, definitivamente, decidem o rumo de um país, sejam eles a economia, a educação, a saúde ou a cultura. Cada um devia defender as suas propostas e, com base nisso, os eleitores estabeleciam depois as diferenças e decidiam o seu sentido de voto.

Rio foi mudando de estratégia. Marcou, logo de início, uma diferença clara – em relação ao regime – mas não confrontou claramente o adversário com esse facto. À medida que a conversa ia aquecendo, Rio caiu no erro de ir aproximando as suas políticas à de Ventura, de uma forma mais ligeira e moderada, mas sem as negar completamente. A partir de agora, é óbvia qual a bandeira que a esquerda vai usar para retirar votos ao PSD.

A estratégia só pode ser uma. Não ter medo de afirmar, olhos nos olhos de André Ventura, que quem defende o ultranacionalismo, a virilidade, um modelo económico que favorece as elites, despreza os direitos humanos, é contra o regime e se posiciona como um líder supremo, populista e demagogo, não pode ser chamado de outra coisa além de fascista. E, acima de tudo, confrontá-lo com dados. Apontar, ao mesmo ritmo alucinante que Ventura confronta os adversários, as incongruências do seu discurso e encostá-lo à parede. Engane-se quem julga que Ventura irá ceder, mas, no mínimo, os eleitores ficam informados. E sem nunca descurar o papel do jornalismo, que não pode deixar no ar mentiras nem perder o controlo da moderação.

As opiniões dividem-se, mas mantenho o que tenho referido. Apesar da coligação ter sido claramente rejeitada, um possível acordo entre Rui Rio e André Ventura não está completamente fora da mesa.

Artigo da autoria de João Paulo Amorim

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