Devaneios
De passagem no presente
Retornos trazem uma desorientação inicial indefinível. Não se explica, ou se percebe na verdade, o sentimento que é voltar a um ambiente. Ansiedade, adaptação, inadaptação, conforto. Será que esse espaço permanece como antes ou também ele foi alvo de mudanças?
Toda uma indefinição que atormenta. Mesmo que não seja transparente, penso que cada mudança (como quando se volta ao “conhecido”) nos deixa com um burburinho interior que se intensifica com a aproximação do tal esperado momento.
Estive num país diferente. Novas culturas, rotinas, horários, perspetivas. Um cá e lá que parecia harmonioso e próximo pelas distâncias encurtadas com o digital. Cada ida e volta custavam, por motivos diferentes. Pandemias e restrições, saudade e nostalgia permanentes, cargas de trabalho que se avultam, amizades em cada ponta.
Uma vida que altera radicalmente e outra que se constrói, mas que é efémera. Um local que se constrói à nossa feição e necessidades, embora num curto espaço de tempo. Tão curto que, quando tudo parece estar em harmonia, termina. Termina e recomeça um ciclo.
Voltar. O quê, quem e como nos esperam. Assusta, não nego. A ânsia de voltar contrabalança com o carinho e dependência do que tem de ficar para trás. Entrar num mundo que nos é familiar estando mudados. Não o consigo expressar. Um processo moroso e solitário, apesar de toda a receção em princípio calorosa que nos aguarda. Uma rotina que parece já não encaixar em nós, ou nós nela. O que faz agora sentido. Manter a nova vida ou readaptar ao passado. Um processo de reentrar, recomeçar num mesmo local.
Sinto-me estrangeira num sítio em que sempre existi.
Uma passageira do presente que tenta encontrar o seu ritmo e espaço onde pensava que sempre iria estar em casa.
Artigo da autoria de Beatriz Coutinho