Devaneios

A igreja está vazia

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Volto para casa quando o metro acorda para ir trabalhar. Penso em ir à igreja, porque a verdade é que a única cura para um maxilar preso é conversar com Deus.

«Conversar com Deus vai fazer com que os meus dentes parem de tremer.» Não entro na igreja. Não seria justo para os cadáveres que assistem missa após missa após missa. Roubar-lhes-ia o seu canto sistemático e a sua fé. Absorveria Deus, os santos, o ouro e o vinho.

Porque me sentia como Ele: de Ser divino para Ser divino. Como afirma Georges Bataille, é no maior dos pecados que O encontramos. Tenho respeito, mas quero conversar. Dói-me o maxilar. Espreito. A igreja está vazia.

Nem Deus nem o seu exército para me receber, os santos desapontados, o ouro descascado, o vinho azedo. Solto uma gargalhada irónica.

Deus decidiu humilhar-me e não me acolheu de braços abertos em sua casa. É porque me dói o maxilar. Não me ajoelho, Ele também não se ajoelhou para me escutar. Não me benzo, saio da igreja sem olhar para trás mas os meus dentes continuam a tremer.

Em nome de Mim, do Sol, e do meu Anjo. Amém.

Artigo da autoria de Ana Carolina Magalhães

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