Devaneios
cidade da destruição
acordo numa noite tenebrosa
preso à cruel realidade;
não fecho de novo os olhos
pois tenho medo de voltar a dormir
– temo a morte e a loucura
que destroem a minha cidade.
nas ruas
os destroços estão ensanguentados
e do que é belo
permanece a recordação da graciosidade;
das pessoas
sobram nas valas os corpos desprezados,
da felicidade
fica a dolorosa saudade.
os bombardeamentos não param.
noite após noite,
vão tomando de novo o lugar.
em casa, uns adormecem
agarrados à sua fé,
outros passam
a noite toda em pé,
com medo de que o exército
da morte e da escuridão
lhes invada o lar,
semeando mais terror
e sofrimento.
dia após dia,
hora após hora,
nada muda.
as sirenes não se calam,
o fogo das armas não cessa
e os gritos e o sangue também não.
só sobram as paisagens desoladas,
nos capítulos dos livros de história,
feitas de esquecimento e solidão.
Artigo da autoria de Sandra Luísa Soares