Crónica

Metamorfose(s)

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Mudança. Uma palavra tão simples, mas com um peso tão grande. Segundo o dicionário da língua portuguesa, entende-se como o ato ou efeito de mudar, o processo pelo qual algo ou alguém se torna diferente do que era. Transformação. A mudança é tudo isto e muito mais. Trata-se de um processo longo, difícil por vezes, mas muito gratificante.

Mas então por que razão o ser humano tem (na maioria das vezes) medo de mudar? Talvez pelo medo das consequências, por preguiça quiçá, ou ainda pelo receio de enfrentar o desconhecido. Ou talvez porque fomos habituados a isso. Lembro-me muito bem da minha infância, a fase da nossa evolução e crescimento onde acreditamos que tudo é perfeito, que podemos realizar todos os nossos sonhos. No entanto, rapidamente somos colocados dentro de “casulos”, de “caixas”, e é como se esse mundo encantado desaparecesse. Apanhamos um choque da realidade.

Ainda vivemos numa sociedade onde ser diferente nem sempre é aceite da melhor forma. Estamos programados para seguir padrões, a regra, e isso está errado. Somos incentivados a lutar pelos nossos objetivos, mas não ir muito além disso. E se quisermos mais? E se depois de alcançar certas coisas, surjam outras igualmente importantes? Devemos parar e ficar satisfeitos com aquilo que já conseguimos, ou continuar a trabalhar e a lutar para chegar ainda mais longe? Uma pessoa aparentemente bem-sucedida que procura ir mais além, é muitas vezes apelidada de ambiciosa, gananciosa, simplesmente por desejar ser mais feliz, mais realizada, procurar chegar mais longe. Esta mentalidade é uma das imagens de marca na nossa sociedade, e talvez aquela que precisa de mudar com mais urgência.

Como é que alguém que se encontra bem e (aparentemente) feliz se atreve a mudar? Talvez porque quer ser mais feliz, porque os sonhos de hoje podem ser diferentes dos de amanhã, porque podem crescer, porque podem estar concluídos. Neste caso, a mudança continua a ser vista como algo negativo quando na verdade é exatamente o contrário. Mas deixemos agora este aspeto de lado, já que nem tudo se resume a sonhos, objetivos, ou a uma aparente ambição desmedida.

É impossível falarmos de mudança sem falar de pessoas, de vida. Ao longo das diferentes fases da vida, o ser humano vai crescendo, evoluindo, e com essa evolução a mudança (mesmo que pouco visível) acaba por se tornar inevitável. Tal como dizia Luís Vaz de Camões, “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, / Todo o mundo é composto de mudança”.

A mudança acompanha a passagem do tempo. Mudamos os nossos objetivos, a nossa maneira de ver as coisas, a nossa opinião sobre certos tópicos, muitas vezes até a própria personalidade acaba por se ir modificando gradualmente, e está tudo bem, é um processo natural. Mudar é muito importante. É fundamental. Imaginem o quão estranho e aborrecido seria viver esta montanha russa a que chamamos vulgarmente de vida sem nunca mudarmos? Passar o curto período da nossa existência sendo sempre a mesma pessoa? Pessoalmente, é uma realidade triste de imaginar.

Todos nós temos aqueles sonhos que ficaram arrumados numa gaveta, numa tentativa racional de tentar convencer o nosso cérebro de que eles nunca existiram. A verdade é que por muito arrumados ou aparentemente esquecidos que estejam, eles continuam lá. Muitas vezes, esses sonhos nunca chegam a ser uma realidade porque temos medo de mudar, medo do desconhecido.

Não podemos ter medo da mudança. É muito melhor arriscar, perceber até que ponto esses sonhos ou objetivos podem ou não ser alcançados, e quem sabe talvez até concretizados. Viver a vida desta maneira parece ser muito mais interessante e desafiante. Ninguém quer passar o tempo atormentado com todos os “ses”, todas as possibilidades de coisas que poderiam ter acontecido se tentássemos, se tivéssemos arriscado.

Somos como uma borboleta em constante metamorfose. Só temos de ser pacientes, e aprender a lidar e a aceitar todas as mudanças que vão acontecendo, nunca tendo medo do futuro. Assim como dizia John Kennedy, “A mudança é a lei da vida. E aqueles que apenas olham para o passado ou para o presente irão com certeza perder o futuro”. E a vida é mesmo assim, repleta de metamorfoses.

 

Artigo da autoria de João Santos Silva

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