Opinião
Willow Project, corrida ao Petróleo
O passado dia 13 de março acabou por ser mais uma vez marcado no seguimento da aprovação do polémico Willow Project, alegadamente associada a uma tentativa de criar uma certa independência dos suprimentos de petróleo russo. Curiosamente, o desastre que o vem assinalar de novo foi estritamente planeado, o que de certa forma se revela irónico como no dia em que foi lembrado a declaração do estatuto de pandemia da doença cujo nome não deve ser dito, por motivos de precaução, três anos depois da data, tenham mesmo assim decidido anunciar a derrota de tantas causas que iam não só contra ao projeto em si, mas contra todos os conceitos que o envolvem. Note-se que para que se possa analisar e opinar sobre um assunto é sempre essencial a procura do máximo de informação verdadeira acerca do mesmo, já que nada se resume à primeira frase de uma página. Assumindo que as fontes utilizadas para a concretização da presente análise e opinião são, de facto, verídicas, analisemos o projeto por alto e tudo o que veio ao decima dos seus planeamento e aprovação.
Afinal, o que é que se sabe sobre o projeto?
Colocado o mais simples possível, o Willow Project, desenvolvido pela ConocoPhillips, tem como objetivo explorar os recursos de petróleo presentes na encosta norte do Alaska, na Reserva Nacional de Petróleo, existindo duas razões usadas para a justificação da sua aprovação: a tentativa de substituir o petróleo fornecido pela Rússia e o benefício financeiro que trará ao estado ao qual pertence a região em vista. Ora, como tudo nestes dias, a recente decisão terá sido maioritariamente influenciada pelos ataques por parte da Rússia à Ucrânia e a guerra que se tem desenvolvido durante o passado ano. Numa peça sobre esta mesma questão, o jornal Gizmodo clarifica que a decisão terá sido apoiada por várias entidades representantes do Alaska, fazendo menção à intervenção de Mary Peltola (representante democráticas e membro da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos desde 2022) feita na semana anterior à deliberação: “[o projeto pode] tornar-nos mais seguros num mundo que tem crescido cada vez mais imprevisível depois da Rússia ter invadido a Ucrânia” (The Dubious Economic Calculus Behind the Willow Project, Zoya Teirstein & Jake Bittle, Grist, 16 de março de 2023, online). A verdade é que se tornou conhecida a pressão que o presidente dos Estados Unidos da América terá sofrido, o que certas fontes defendem como sendo a principal razão da aprovação deste projeto. Motivos como a vantagem económica que irá trazer ao estado, a criação de empregos e a independência já referida são frisados por aqueles que apoiam o projeto.
Leiam-se sempre as letras pequenas.
De facto, consta que o projeto já teria não só sido orquestrado inicialmente em 2018, como também até aprovado em 2020, durante o mandato de Donald Trump, mas terá sido cancelado graças à confirmação do impacto ambiental que o projeto terá não só na zona onde decorreria, como também a nível global. Não sendo isso suficiente para o impedimento de Willow, estudos recentes por parte da International Energy Agency confirmam que, mesmo após as alterações feitas para diminuir o impacto ambiental do mesmo, “não podem ser desenvolvidos novos campos de petróleo e gás se o mundo quiser evitar ultrapassar os limiares de temperatura que, segundo os cientistas, irão fazer cair o planeta em ondas de calor cada vez mais perigosas, inundações, incêndios e outros impactos” (Biden’s approval of Willow project shows inconsistency of US’s first ‘climate president’, Oliver Milman, The Guardian, 14 de março de 2023, online). Claramente. Não fosse pelo que é evidente e defendido por movimentos como #stopwillow, decorrente nas redes sociais, bem como a petição que juntou mais de 2.8 milhões de assinaturas e as manifestações que até à data vão contra o avanço do projeto, seria pela conhecida oposição manifestada pela própria comunidade Inupiaq, residentes em Nuiqsut — área do Alaska mais próxima das zonas onde a exploração irá ter lugar — o que resumiria simplesmente a uma questão de respeito para com aqueles que irão sofrer as consequências em primeira mão. Em concordância com esta ideia, Alexandra Ocasio-Cortez, política democrata e ativista especialmente conhecida pelas suas inicias (AOC), manifestou a sua desaprovação, citada no jornal The Guardian:
“[ignoro das] vozes do povo de Nuiqsut, as nossas comunidades na linha da frente e a ciência irrefutável que diz que devemos parar de construir projetos como este para abrandar os impactos cada vez mais devastadores das alterações climáticas”x
(Biden’s approval of Willow project shows inconsistency of US’s first ‘climate president’, Oliver Milman, The Guardian, 14 de março de 2023, online).
Além do mais, já que julgo evidente que todas as contas feitas no decorrer da trama de Willow contaram como fator ganância e competição, é de se destacar que não só o petróleo daqui conseguido não irá substituir por completo a dependência do fornecimento russo, como também más-línguas nos jornais mundiais afirmam que o custo-benefício não será vantajoso para o estado afetado, para não falar dos danos irreparáveis que dinheiro algum poderá apagar.
(The Willow Project has been approved. Here’s what to know about the controversial oil-drilling venture, Ella Nilsen, CNN Politics, 14 de março de 2023, online)
“No more drilling on federal lands, period”, Joe Biden, campanha presidencial, 2020
“Acabaram-se as perfurações em terras federais, ponto final” — ou poder-se-á dizer “virgula” seguido de um longo mas? Julgo que este ajuste na célebre frase que agora foi desenterrada pelos mídia é tanto adequado, tanto necessário. Depois de um investimento em projetos de energia eólica e solar e em carros elétricos com o intuito de diminuir as emissões de CO2, especialmente em 2022, o Projeto Willow, sendo realmente concretizado, irá não só compensar estes cortes, como ultrapassá-los, quebrando toda a epifania ambiental que tanto foi arrastada desde a campanha há 3 anos que aparentemente acabou por se rasgar (The Dubious Economic Calculus Behind the Willow Project, Zoya Teirstein & Jake Bittle, Grist, 17 de março de 2023, online).
Ora, acabadas as contas, ainda que as informações publicamente disponíveis sobre Willow não parem de qualquer modo por aqui, julgo ser no mínimo justo assumir que nada estará certo no destino do projeto. Para além dos ataques que tem recebido virtualmente, é certo que se juntarão no mínimo um par de anos em ataques formais. Afinal, se a pressão já referida fez o senhor presidente ceder em primeiro lugar, parece-me possível que Biden seja suficientemente maleável para que a sua opinião seja vergada para o lado oposto mais uma vez. Até lá, nada de previsões, apenas factos e opiniões.
Artigo da autoria de Joana Oliveira