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Opinião

Beleza + Ciência = Lógica?

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Fotografia por Margarida Allen

Há qualquer coisa de especial em partilhar um almoço, sentado ao sol numa praia à beira-mar. Não precisamos de nenhuma fórmula complexa para reconhecer que será este ambiente belo e singelo que nos tomará o sentimento; aperfeiçoando o nosso olhar. É a estética do momento, ainda que puramente subjetiva, que funciona como catalisador das cores desta realidade.

Percebemos então porque a beleza é talvez dos conceitos mais transversais da humanidade. Da mesma forma que os nossos antepassados precisaram de outras conceções complexas, como a superstição e o fantástico. Todos eles facilitam a nossa compreensão, aproximando-nos da clareza do cinzento mundo que nos rodeia. Mas é esta estrutura, ainda que arcaica, que precisamos de abraçar para compreender os diferentes tons de cinzento. Está no reconhecimento e aceitação da subjetividade do conhecimento, a dinâmica para compreender que o nosso pensamento encarna a observação: a lógica para um novo conhecimento.

Poderemos então dizer que o conhecimento, tal como a beleza, assenta na perspetiva do observador? Naomi Oreskes responde a esta pergunta dizendo que a ciência não é confiável por causa do caráter do observador, mas sim pela virtude e natureza das suas práticas. Contudo, eu arriscaria mais. Cada um de nós é capaz de se inspirar pela beleza da ciência. As diferenças que habitam o mundo, vistas de forma tão diferente, assemelham-se à forma como os diversos altas descreviam o corpo humano. A História da Ciência conta-nos sobre a riqueza das diferentes formas como os artistas desenhavam os sulcos e lisuras dos nossos músculos, ossos e órgãos. Hoje, talvez esta diversidade esteja escondida pela estandardização estatística de uma imagem digital, que seria essencial para um médico identificar a diferença e ubiquidade de cada corpo.

É, por isso, óbvio que a falta de literacia científica não pode ser a panaceia geral da falta de compreensão de conhecimento. A lógica diria que pessoas mais instruídas teriam mais facilidade em compreender o argumento científico. Porém, a mesma ciência já veio precisamente argumentar o contrário: em certos grupos de pessoas, quanto maior o seu nível de instrução, há uma tendência maior para a duvidar ou mesmo rejeitarem provas de eventos científicos. E tudo isto vai para além das alterações climáticas e do negacionismo das vacinas. Poderá parecer um contrassenso, mas se encararmos a velocidade com que a informação (científica ou não) passa pelos nossos ecrãs, facilmente compreendemos como o que hoje é verdade, amanhã poderá não o ser. Eis a compreensão da diferença. Já Popper falava na falsificação para o carácter do conhecimento científico. Porém, hoje, mais que nunca, precisamos de estar preparados para lidar com a falsificação do futuro, que hoje é verdade no passado.

Daí a necessidade que temos de nos acostumar com a instabilidade do conhecimento cientifico. Conteste-se! Tal como reclamamos com corrupção, fascismos e injustiças, o aspeto social do conhecimento é vital para exigir uma sociedade melhor. Contestar conhecimento não legitima qualquer evidência que o estamos a negar. Mas prova que o levamos a sério. Mais que nunca usemos este ímpeto geracional, que não se conforma para guiar as novas gerações, para além de repetir fórmulas sem as questionar. Ignorar a mobilidade das diferenças, nada mais é que nos condenar à ignorância. E saber falar ciência, explicá-la e compreendê-la, é articular os seus limites com a beleza da subjetividade da ciência.

Artigo da autoria de José Caetano

Fotografia por Margarida Allen

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