Artigo de Opinião
Será que ainda precisamos de rótulos?
Junho, um mês dedicado à celebração do orgulho LGBTQIA+, mas que representa, também, um aumento do número de ataques das pessoas conservadoras, que, como sabemos, estão sempre do lado errado da história e que criticam toda a visibilidade e todas as conquistas desta comunidade.
Um dos muitos ataques recai sobre a inclusão de mais letras à sigla do movimento queer, que representam cada vez mais identidades e orientações sexuais, levando à criação de novos rótulos, mas que os conservadores consideram excessivos e desnecessários.
Ora, numa primeira impressão esta crítica pode parecer válida, tanto por parte de quem está fora do movimento, como quem pertence à comunidade, já que ainda existem diversos preconceitos em relação a todos os aspetos que desafiem a cis e heteronormatividade, devido ao desconhecimento de outras realidades que não se encaixem no padrão da sociedade.
Em tempos, acreditei que esta crítica fazia sentido, porque não entendia a diversidade de identidades que existe e questionava o porquê da luta pela visibilidade, do que eu considerava um rótulo, que vem sempre acompanhado de estereótipos e preconceitos, o que limita a nossa liberdade individual. Além disso, considerava que ser queer não era um traço muito importante da personalidade, mas sim mais um elemento desta.
No entanto, quando comecei a informar-me mais e a questionar o patriarcado e, consequentemente, a cis e heteronormatividade, percebi que pertencer à comunidade ainda é um ato de resistência contra a estrutura de sociedade que existe, bem como é uma luta que nunca acaba.
Além disso, comecei a perceber que afinal também não me encaixava no sistema patriarcal, o que me fazia sentir excluída da sociedade e aí entendi a importância dos rótulos, ou seja, a importância de pertencer a uma comunidade. É óbvio que ainda é necessário desconstruir algumas ideias pré-concebidas sobre cada um dos rótulos, representados pelas várias letras da sigla, mas agora consigo entender que ter um rótulo ajuda a que nos tornemos parte de uma comunidade, ao mesmo tempo que sabemos que não somos as únicas a passar por estas vivências, que nos fazem sentir um “bicho raro”, como os conservadores gostam de nos apelidar.
Por isso, não só neste mês, mas durante todo o ano espero que a comunidade continue a crescer e que os rótulos continuem a aumentar, se for necessário, porque toda a gente merece pertencer a uma comunidade onde se sinta integrada e aceite.
Talvez um dia, quando este sistema cis e heteronormativo que nos oprime for destruído, deixem de ser necessários todos estes rótulos, mas até lá, espero que todos encontrem a sua comunidade e que continuemos na resistência contra este sistema e rumo à liberdade de sermos e amarmos quem quisermos, sem medos e em liberdade.
Artigo da autoria de Inês Amorim