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Devaneios

O que faz o Poeta?

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“O ato poético é o empenho total do ser para a sua revelação.” – Eugénio de Andrade

Dei por mim, incontáveis vezes, a tentar encontrar um sentido para a poesia e para os poetas que a escrevem. Quando era mais novo não entendia, como é que, em alguns casos, uma escrita tão confusa apaixonava um tão elevado número de pessoas. Mas, por causa de uma “obrigação mental” imposta por mim mesmo, fui mergulhando neste mundo tão profundo e vasto que é a poesia, e se me atrevo a colocar por outras palavras mais correntes: atrevi-me a mergulhar no mundo dos sentimentos. Porque de facto a poesia é isso mesmo, é um “devaneio emocional”, misturado com uma perspicácia, e perícia, para a gestão e compreensão dos nossos íntimos sentimentos, mesmo os mais sombrios. A poesia é a transmissão do mais inexplicável sentimento, é uma tentativa, por vezes fugaz, de colocarmos no mundo um pouco do que se encontra nas confusas redes da mente humana. É a tocha que ilumina a escuridão das nossas catacumbas cerebrais.

Mas, a poesia não é só a beleza sentimental do amor, da felicidade e da satisfação, é também a dor de existir, a dor de perder, a dor do amor (pois o amor é uma dualidade)… e muitas vezes a poesia é quem nos magoa. Por muito forte, seja para os bons sentimentos, seja para os maus, que a poesia possa ser, haverá sempre algo que não me sai da cabeça. Não nos podemos limitar a observar a poesia e os poetas como meros acasos na nossa sociedade, não os poderemos ver somente como exploradores sentimentais. Há algo que subsiste, para além desta superficialidade até agora por mim falada, e isso é a conexão que a poesia traz. Ela junta o que se encontra mais afastado e relembra-nos que mesmo nos momentos mais tenebrosos e soturnos há, ou houve, alguém que sentiu o mesmo que nós… e não há nada mais bonito, que nos relembrarmos que não estamos sozinhos nesta aventura, que chamamos de vida. Pois, as pessoas nascem, vivem e morrem, desaparecem nas dúvidas e nos confins da morte, mas os sentimentos permanecem, e permaneceram, saltitando de mente em mente, e encontrando repousos momentâneos na tinta das canetas, e nas páginas brancas e amareladas dos nossos livros. Assim poderemos sempre relembrar o outro, do verdadeiro significado da vida: viver para sentir, e sentir para viver. E é isso que os poetas são, para além de exploradores dos sentimentos, são o nosso guia sentimental, e o testemunho da vida humana, na sua mais pura forma.

Artigo da autoria de Daniel Madeira

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