Crónica
Malabarismo
Crescer é difícil. É senso comum, todos concordam. Quando somos crianças temos a falsa sensação de que a vida adulta é muito melhor do que a vida de restrições que uma criança leva. “Não faça isso!”, “Comporte-se!”, “Obedeça!”, e milhares de outras frases que ouvimos desde pequenos. Mesmo assim, a vida adulta ainda compartilha diversas diferenças e semelhanças com a infância. Os castigos viram prazeres e os prazeres, castigos. A vida é um circo e quando não estamos na plateia, estamos no picadeiro.
Eu, particularmente, nunca gostei de ir ao circo. Não via graça nos palhaços, tinha pena dos animais e medo de altura, então nem vou elaborar sobre o meu nervosismo quando via um equilibrista na corda bamba. Até hoje em dia, quando vejo um malabarista num semáforo, não sinto um pingo de alegria. Desde pequena eu sentia admiração por eles, pois eu mesma nunca fui muito boa nisso. Não sei se é falta de coordenação motora ou de prática, mas sempre fiquei admirada em ver como as pessoas faziam aquilo. É incrível como eles conseguem administrar tanto em simultâneo, sem deixar nada cair.
De certa forma, também faço malabarismo. Todos nós. Gerir todas as responsabilidades, sem deixar nada faltar, sem dececionar. Trabalho, universidade, contas, propinas, casa, transporte, família, amigos, namoro, exercício, beleza, entretenimento, saúde, higiene, alimentação, descanso. Por mais que tentemos, sempre deixamos um destes aspetos um pouco de lado. Alguma responsabilidade que poderia ganhar mais atenção, algo que poderia melhorar. Quando enumero, nem parece dar tanto trabalho, não parece ser tanto, mas o dia tem poucas horas. E nem me pergunte quantas horas a mais deveriam ser necessárias, porque eu tenho aperfeiçoado o meu malabarismo. Dá tempo para quase tudo.
Após adultos, viramos os malabaristas que tanto admirávamos quando criança. Jogamos algumas responsabilidades pro alto enquanto tentamos lidar com aquelas que temos em mãos no momento. E assim revezamos e priorizamos o que sentimos que tem uma maior necessidade. Isso é maneira de viver? É o que eu me pergunto enquanto jogo mais alguns malabares pelo ar. Será que vou deixar tudo cair no chão ou será que os mantenho no ar em vão?
A realidade é que, com o tempo, fazemos esse malabarismo sem percebermos, e mesmo que seja difícil, estamos sempre tentando fazer o nosso melhor. O mundo nos obriga a fazer parte desse inevitável circo.
Artigo da autoria de Giulia Ilha