Artigo de Opinião
Patetivismo Climático
A questão das alterações climáticas e da luta para tentar mitigar, ou até inverter, os seus impactes é polarizadora. Como qualquer temática polarizadora, ela tende a originar posições extremadas onde, por regra, não reside a resposta sensata e equilibrada necessária. Se, por um lado, há quem ache que as alterações climáticas mais não são que um ludíbrio, uma fachada para encobrir certas decisões de âmbito político, há, por outro lado, quem afirme que estamos para lá do fim da linha, que o mundo está a arder e que iremos todos morrer se não mudarmos tudo, agora. No primeiro extremo temos os negacionistas (das alterações climáticas), enquanto no outro temos os fundamentalistas fanáticos. Como qualquer posição extremada, para todo e qualquer assunto, geralmente não é aqui que se encontra a solução mais razoável.
Mas a problemática, em si, é uma questão secundária neste artigo de opinião, no sentido em que poderia ser esta ou outra qualquer. O ataque de que foi alvo o ministro Duarte Cordeiro é, a todos os níveis, inadmissível e é esse ato que merece a minha reflexão. Como alguém que compreende e reconhece a importância das intervenções em prol do combate às alterações climáticas, sinto-me dececionado e agastado com estas “ações de protesto”, reprováveis e, em última análise, criminais, perpetradas por jovens adultos com muita gana de mudar o mundo, mas pouca noção de civismo. Não partilho o princípio, muito perigoso, de que os fins justificam os meios, menos ainda estas iniciativas paternalistas, ancoradas em sentimentos libertários. Prefiro o princípio de que a nossa liberdade individual tem, sim, limites, designadamente onde começa a liberdade dos outros.
Atos como o ocorrido na CNN Portugal Summit, para além de condenáveis do ponto de vista cívico, correm o risco de tornar-se antagonistas da própria causa. Como consequência, a imagem daquilo que é o ativismo – atitude importante e até, em alguns casos, um verdadeiro motor de evolução sócio-cultural – fica associada a ocorrências controversas e polémicas, que em nada contribuem para o propósito fulcral: chamar a atenção para esta problemática e para a importância de se tomarem medidas concretas e eficazes. Vivemos (e ainda bem!) num sistema democrático que permite diversíssimas formas de luta, legais e não atentatórias da integridade física de terceiros, que vão desde petições, movimentos populares, associativismo, até formas de protesto individuais, como greves, uso e/ou recurso aos meios de comunicação social, ou iniciativas que visem criar impacto público, mas que não prejudiquem terceiros, e cujo leque de hipóteses se torna vastíssimo com um pouco de criatividade.
Não caiamos na tese bacoca do “isto só lá vai à força ou quando alguém levar um tiro” e deixemo-la para os desesperados e para os pouco sagazes. Nem nós estamos desesperados, nem estamos sequer perto de ter esgotado o nosso repertório de ações de luta e de protesto, tal como fica bem exemplificado com o caso que recentemente chegou ao Tribunal Europeu dos Direitos Humanos, movido por seis jovens portugueses contra 32 países, acusados de atuação insuficiente contra o aquecimento global. A situação pode exigir urgência, mas as alterações têm de ser profundas e isso não se faz da noite para o dia, nem por meio de atos intimidatórios, pessoalizados contra quem ocupa determinado cargo, em determinado momento.
Estes “ativistas” têm, por isso, de ser responsabilizados pelas suas condutas, especialmente quando caem na esfera criminal, como atos de vandalismo ou ataques contra terceiros. Deveriam ainda, diria, utilizar melhor e mais proveitosamente o seu tempo estudando sobre o assunto, por forma a conseguirem propor medidas concretas, razoáveis e adequadas àqueles que são os verdadeiros problemas que estão a causar esta emergência climática, visto que, na esmagadora maioria das vezes, apenas aproveitam o consequente tempo de antena para fazer passar chavões gastos e mensagens inócuas. A chave para levar outros a acreditar e a apoiar uma causa é transmitir seriedade, credibilidade e motivação, e não é com atitudes patetas e censuráveis que o conseguirão.
Artigo da autoria de Luís Meira