Artigo de Opinião

O mundo tem preguiça de ler

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Imagem: Ales Nesetril via Unsplash

A verdade é que a preferência por consumir vídeos e fotos em detrimento de textos tornou-se uma tendência cada vez mais presente na sociedade contemporânea. E não é surpresa para ninguém que as redes sociais têm contribuído muito para tornar as pessoas mais preguiçosas e menos exigentes em relação ao consumo de informação.

Basta você analisar as primeiras redes sociais na internet, Orkut e Facebook, que se popularizam por oferecer grupos onde as pessoas trocavam experiências participando de fóruns e comunidades, gerando assim uma grande rede de informação.

Hoje, a maior rede social depois do WhatsApp, o Tik Tok, tem como característica principal a informação visual e ligeira das trends: 1 em cada 4 vídeos de melhor desempenho no Tik Tok tem menos de 34 segundos.

Vivemos numa cultura do consumo do Eu e por isso as redes sociais desempenham um papel essencial na vida cotidiana das pessoas, oferecendo uma ampla gama de conteúdos que são facilmente acessíveis e rapidamente consumidos.

E preciso ressaltar que esse caráter participativo da sociedade moderna digital não tem como característica o estimulo ao consumo critico, mas sim a (re)produção fútil e individual em massa.

Armas visuais: o deslize dos dedos sobre a tela

Estamos sendo bombardeados por estímulos visuais o tempo todo e esse arsenal de conteúdos impacta a forma como nos relacionamos e, mais precisamente, como nos comportamos diante de situações cotidianas, principalmente nas reações fisiológicas da tangente sentimento.

Nesse contexto, observa-se uma preferência crescente por vídeos curtos e imagens cativantes em detrimento de textos mais longos e densos, os instintos “textões”. Pode-se dizer que essa preferência está atribuída, em sua maior parte, à natureza visual e instantânea das redes sociais, que valorizam a rapidez e a praticidade no consumo da informação, estabelecendo uma narrativa de consumo do conteúdo sem abrir precedentes para interações mais profundas. No entanto, essa mudança de comportamento traz consigo algumas consequências.

Um dos efeitos notáveis neste arquétipo é a tendência à preguiça informacional. Com a alta facilidade de acesso à vídeos e imagens, muitas pessoas acabam por optar pelo consumo de conteúdos mais superficiais e menos exigentes cognitivamente. Essa preguiça se manifesta na falta de disposição para destinar tempo e esforço à leitura de textos longos e complexos, preferindo assimilar informações de forma rápida e visualmente atrativa e que o seu consumo não gere desgaste cognitivos.

Além disso, o bombardeio de informações nas redes sociais acaba por levar a uma menor exigência no processo de busca por conteúdo. Os usuários estão constantemente expostos a um grande fluxo contínuo de informações, criando uma cultura da satisfação superficial que está abrindo espaço para fenômenos comunicacionais como as Fake News, utilizadas para reforçar um pensamento ideológico ou não, por meio de mentiras e da disseminação de intolerâncias.

Pós Verdade

Eleita a palavra do ano de 2016 pelo Dicionário Oxford, segundo o próprio dicionário britânico, o verbete significa “relativo a ou que denota circunstâncias nas quais fatos objetivos são menos influenciadores na formação da opinião pública do que apelos à emoção ou à crença pessoal.”

Juntas, a dupla Fake News e Pós Verdade são produtos advindos dessa sociedade digital que não questiona a veracidade das coisas e que não busca fontes confiáveis, mas que também se utiliza desses fenómenos para reforçar um pensamento ideológico ou não, por meio de mentiras e da disseminação de intolerâncias.

Por isso, em um mundo digital de constante expansão, onde a informação é rapidamente manipulada e disseminada, em tempos de inteligência artificial (IA), a imagem tornou-se uma poderosa ferramenta de comunicação.

A linguagem visual das coisas: um meme vale mais que mil palavras

É importante ressaltar que, embora a internet tenha ampliado as possibilidades de expressão e criatividade, não devemos ignorar os direitos dos indivíduos em relação à sua própria imagem.

O compartilhamento de vídeos, fotos, figurinhas e outros arquivos de mídia que utilizam a imagem de terceiros para gerar informação, geralmente com tom de piada ou deboche, se tornou uma forma comum de comunicação digital. Essas imagens viralizam rapidamente, alcançando uma ampla audiência e, muitas vezes, ativando memórias nostálgicas coletivas.

Um aspecto interessante nessa discussão se dar no fato de que não apenas indivíduos, mas também empresas e instituições têm se apropriado dessas imagens para promover e até mesmo produzir as suas campanhas de marketing digital.

Compreende-se que, diante dessa revolução comunicacional advinda pelo uso massivo da internet, mais precisamente das redes sociais, o uso de memes pode ser uma estratégia eficaz para alcançar um público mais amplo e engajar os usuários nas plataformas online.

No entanto, a utilização dessas imagens em campanhas publicitárias levanta preocupações sérias sobre a proteção dos direitos de imagem e a possibilidade de exploração intelectual indevida de terceiros.

Além disso, todo mundo já sabe que IA é utilizada para coletar dados pessoais dos usuários, afim de otimizar campanhas de marketing ainda mais personalizadas. Isso pode levantar preocupações sobre a privacidade dos usuários, por exemplo, pois eles podem não estar cientes de que seus dados estão sendo usados para fins de marketing.

O que sabemos é que mundo digital é um terreno muito amplo e medir toda sua área é um desafio longe de ser acabado. Afinal, nada é capaz de parar o avanço desenfreado da tecnologia, por isso a internet segue sendo “terra de ninguém”.

 

Artigo da autoria de Ícaro Machado

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