Artigo de Opinião
“A faculdade serão os melhores anos da tua vida”, certo?
“A faculdade serão os melhores anos da tua vida.” Quem nunca ouviu esta frase da boca dos pais, professores, ex-alunos universitários e até influencers? A vida do estudante universitário é tão idealizada quanto incompreendida.
Muitas vezes, os media retratam a vida universitária como os tempos da felicidade perpétua e da despreocupação. Então, construiu-se a crença de que isso é o que se deve esperar e que, futuramente, serão os dias que se recordarão com nostalgia, com o desejo de poder voltar.
Para muitos, a entrada na universidade equivale à primeira vez que se vive sozinho. Ao mesmo tempo, lida-se com um estranho mundo novo. Mesmo aqueles que permanecem com a sua família e que vão diariamente para a universidade são capazes de admitir que há algo na faculdade que se distingue da escola secundária, por exemplo. Esta transição da escola para a universidade pode causar preocupação a muitos estudantes e, por vezes, pode conduzir a um sofrimento significativo, mau desempenho académico e ao abandono escolar.
Um dos primeiros desafios que muitos encontram é sentir falta de casa. Sim, a liberdade da mudança para uma nova localidade é recompensadora, a oportunidade da autodescoberta e da reinvenção do “eu” é deslumbrante. Apesar de se conhecerem muitas pessoas novas e de se experimentarem coisas diversas, é fácil sentir falta de amigos e família da nossa terra natal, da vida do costume. Penso que isto não é reiterado vezes suficientes e, às vezes, despreza-se esta saudade. Contudo, este é um sentimento totalmente normal e comum, ou não fosse o ser humano um ser de hábito.
Associado às saudades de casa, está a partilha de casa ou a estadia numa residência universitária. As pessoas têm hábitos e horários diferentes, o que pode constituir um incómodo à convivência com alguém dentro de quatro paredes. Tal pode escalar para conflitos mais desagradáveis ou apenas para um desconforto generalizado no dia a dia. De facto, moldar a vida doméstica à de outras pessoas, sem nunca comprometer a individualidade, consegue ser cansativo.
Porém, apresenta-se muitas vezes como necessário, já que a elevada carga de custos associada ao ensino superior pesa a muitos estudantes. O orçamento disponível para tudo (desde propinas, a renda, a alimentação e gastos sociais) é um fator stressante entre os jovens desta geração que almejam completar um curso universitário. Nem sempre é possível ter a sólida certeza de que se vai conseguir fazer fase a tantas despesas.
Tal leva a que aumente o número de trabalhadores estudantes. À carga horária das aulas, do estudo autónomo, das viagens e outros, acrescenta-se o vínculo profissional e caga horária de trabalho. Ora isto exige uma enorme flexibilidade por parte do estudante. Ou seja, o desenvolvimento da capacidade de gerir o tempo, uma das habilidades mais úteis que a faculdade vai obrigar qualquer um a ter.
Como é que se pode ser um bom aluno no meio de tudo isto? Diria que aprender a estudar de forma eficaz é a chave. Desde aprender o estilo de estudo adequado até encontrar um bom lugar para estudar. Diga-se de passagem que não é tarefa simples. Por norma, os estudantes vêm mal preparados no que se refere a este assunto. Julgo que não por sua culpa, mas sim pelo ensino carecer da preocupação em fornecer ferramentas práticas de aprendizagem. Então, no final do semestre, é normal sermos assolados pela sensação de que não se estudou o suficiente.
A universidade oferece aos alunos muitas oportunidades além do foco académico, tal como as praxes académicas, as tunas, grupos culturais, prática desportiva e outras. Todas são ótimas chances para estabelecer contactos sociais. Todavia, há que sublinhar que frequentar a faculdade não é imperativo de fazer parte de outras atividades sociais a ela associadas. A escolha de proceder à integração por outras vias ou de apenas e só ver a faculdade como uma ocupação são totalmente legítimas.
Muitas vezes se fala da peer pressure na adolescência, mas penso que quando se trata da vida dos estudantes do ensino superior este tema fica na sombra de tudo o resto. O mito da universidade como este paraíso para todos, leva a que se conclua que quem não vive isto tem algo de errado. Qualquer mente sensata sabe que isto não é verdade, porém, reconhece a dificuldade de ignorar estas crenças generalizadas e cumprir de modo saudável o desejo de pertença.
Aqueles que tentam olhar para o estudante universitário moderno devem tirar os óculos cor-de-rosa, pois não há uma verdade universal que traduza a experiência de todos. Nem esta minha reflexão abordou a experiência de todos pois a identidade de cada um tem uma grande influência neste assunto. Com isto, concluo que devemos fazer esforços para criar um ambiente mais encorajador e menos estigmatizante para os estudantes. A universidade é só princípio de uma vida, não é necessariamente a melhor parte desta.
Se estás a ter dificuldades em lidar com a experiência universitária, a Universidade do Porto disponibiliza serviços de saúde aos seus estudantes através dos Serviços de Ação Social da Universidade do Porto (SASUP).
Para saberes mais, consulta: https://www.up.pt/portal/pt/viver/saude-e-bem-estar/apoio-medico/
Artigo da autoria de Beatriz Costa