Opinião

Tim Bernardes e as Mil Coisas Invisíveis em Portugal

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Imagem: Arquivo Pessoal (Ícaro Machado)

Vila Real. Em turnê breve pelo Velho Mundo (Europa), o artista brasileiro Tim Bernardes chegou a Portugal com a sua guitarra, um violão elétrico e, claro, a sua paixão inseparável, o piano.

Alto, óculos redondos, bigode preto carregado e um suéter verde que se conecta em harmonia com a luz de led ao fundo também em verde-vivo-bandeira. O menino Tim trouxe a sua mais nova obra-prima musical para que todos pudéssemos ver, sentir e ouvir. Mesmo Se Você Não Ver.

Para situar os leitores que caíram de paraquedas nesse texto de apreciação, Martim Bernardes Pereira nasceu em São Paulo (Brasil), no dia 18 de junho de 1991. No entanto, ficou popularmente conhecido pela palavra sonora Tim. Bernardes é cantor, produtor e compositor brasileiro — dos grandes, diga-se de passagem. Mistificar: “é mais que o próprio sonho. É por poder sonhar.”

Junto com grandes artistas como Rubel (que já falei aqui) e Cícero Lins, o musicista é um dos nomes brasileiros mais potentes da música indie, um subgénero do rock que se originou nos Estados Unidos, Reino Unido e Nova Zelândia entre os anos 1970 e 1980, e que vem chamando a atenção do público que tem apreço por musicas com melodias “melodramáticas”, letras bem estruturadas em ‘poesias cantadas’ e, claro, muitos falsetes vocais para misturar os sons, sussurros e vozes e assim entregar álbuns conceituais. São Fases, fases vão passando…

“Destruí meu velho eu, para mim, enterrei Deus no quintal no jardim. Matei minha mãe, meu pai. Me perdoei, seguimos todos vivos.”

Medo, dor, angústia e libertação. Tendo como fonte de criação os produtos de suas vivências e desilusões amorosas, o seu primeiro álbum solo Recomeçar foi indicado ao Grammy Latino de 2018, ficou em segundo lugar na lista dos Melhores Álbuns de 2017 pela revista Rolling Stone, e em oitavo dentre os Dez Álbuns Fundamentais da Década pela revista O Globo em 2010.

Tim Bernardes já se apresentou ao lado de artistas como Arnaldo Antunes, Maria Betânia, Nando Reis, Tom Zé, Jards Macalé, Tulipa Ruiz, Karina Buhr, Mallu Magalhães, Marcelo Jeneci e Boogarins. Em 2022, o cantor chegou ao Festival Coala (BR) para dividir o palco com a nossa eterna potência dos vocais, Gal Costa, com quem regravou a canção “baby” — e ficou lindo, viu?

 

Mil Coisas Invisíveis

Depois de recomeçar, é hora de renascer em um mundo de coisas invisíveis. Para essa turnê, Tim trouxe o seu segundo álbum de estúdio Mil Coisas Invisíveis e cantou sobre a rendição das coisas que cruzam a vida de todo mundo que sente: sobre crescer; reencontrar; se apaixonar e desapaixonar; sobre o luto; sobre a lua e a prosa atmosférica do ar; amizades; e sobre como todo amor é lindo, “é realmente lindo”.

O tempo estava até ameno, “não esperava calor em Vila Real”, disse o cantor enquanto se separava do forte abraço de seu casaco jeans com gola em bege peludo. 

Essa não é a primeira vez que este jornalista aqui escuta de perto uma das vozes mais lindas e doces [ de tão potente] da nova MPB brasileira. Em 2023, tive a oportunidade de conhecer o cantor e a Casa da Música do Porto em um dia só. Um lugar musical para uma estrela que canta poesia. Ah, Esse Ar.

Nascer, viver, morrer.mp3 foi o pontapé inicial para o espetáculo. O teatro estava cheio e as luzes no palco estrategicamente pensada para explorar todas as nuances e letras do cantor. Mesmo um tanto introspectivo, o público não segurava os aplausos ao artista. Voz e violão foram o bastante para fazer todo o teatro de Vila Real “viver na realidade que é onde é possível.”

O poder da música. Durante meu processo de imigração, essa mesma canção me deu um forte impulso para seguir. Isso por que, nesta obra musical, Tim fala sobre a potência que é nascer de novo no meio da vida. Sobre matar o passado que não te acrescenta mais; se desprender do amor embrionário dos pais; mas, acima de tudo, sobre viver: “eu quero, eu amo, eu posso e eu vou”. Leve, 

“Até porque deixar pra trás pode ser andar pra frente.”

Intercalando entre os seus instrumentos e até mesmo justificando a rapidez de seu sotaque português-BR, o cantor elevou o ambiente e entregou muito sentimento a partir das letras de suas músicas e das melodias marcantes que fazem desse seu segundo álbum ainda mais maduro que o primeiro. Com vocais potentes, Tim é Realmente lindo. 

 

Tudo Está Melhor do que Parece

Olha, a carreira de Tim começou lá com a banda paulistana de indie rock, O Terno, fundada em 2009. Inicialmente, os integrantes começaram a fazer covers de bandas como Os Mutantes, The Beatles e The Kinks. Posteriormente, ganharam o Brasil ao apresentarem o seu próprio repertório. O Terno segue sendo uma das grandes referências da música independente brasileira nos dias de hoje, e também um dos fundadores do selo RISCO.

Enquanto integrante, Tim era compositor e vocalista da banda; juntos, lançaram quatro álbuns. E é claro que ele vestiu o Terno e cantou alguns de seus sucessos no Teatro de Vila Real. Eu mentalizei e Tim soltou a voz com A História Mais Velha do Mundo, Melhor Do Que Parece e outras. O cantor também disse que a banda deve entrar em turnê esse ano. Será que Portugal está no radar?

Encerrando com A Balada de Tim Bernardes,  antes de voltar e cantar “volta” (O Terno), o cantor invocou nesta canção, a melódica lembrança do sonhar com as coisas que se passaram — tudo aquilo que “muda de plano”. Uma forma poética de terminar o seu grande show. A balada de Tim toca sobre o luto das coisas lindas que a lembrança onírica é capaz de trazer consigo. Ela nos faz lembrar de que a gente tem de Ser aqui o que quer ser. Que é pra gente ser tudo no agora.

“Por que não cantar? E por que não cantando? La, la, la, la…”

 

Teatro de Vila Real: 20 anos

O show do Tim Bernardes em Vila Real faz parte da rica programação de comemoração dos vinte anos do Teatro, que conta com o apoio da RTCP (Rede Teatros e Cinemas Portugueses). E quer um spoiler? A programação ainda conta com o espetáculo Ficções da multiartista e atriz brasileira Vera Holtz nos dias 27 e 28 de março. Eu SUPER INDICO!

Para celebrar esta aventura, o plano de programação do próximo ano inclui uma semana de espetáculos gratuitos para vários públicos, um conjunto de projetos especiais com vários agentes criativos do concelho – programação de aniversário.

Na semana do aniversário, atuam dois artistas vila-realenses com carreira sólida no país. Emmy Curl, nome artístico da vila-realense Catarina Miranda, apresenta o seu novo álbum de originais, “Pastoral”, e o actor João Pedro Vaz revisita a sua primeira peça de sempre, feita em Vila Real em 1994, numa nova criação, “Morada”, produzida pelo Teatro de Vila Real.

O Dia do Aniversário é assinalado com um concerto para dois pianos com Mário Laginha e Pedro Burmester. A semana tem outros momentos de celebração, como a inauguração de uma exposição alusiva aos vinte anos do TVR, vários DJs vila-realenses a animar as noites no Café-Concerto e, a encerrar, a apresentação da cantora Sara Correia

Além disso, Tim Bernardes e as mil coisas invisíveis ainda estão visíveis a olho nu em Portugal e em alguns outros países da Europa, vão ver!

 

Serviço:

PT Coliseu Porto – 31 de janeiro

PT Coliseu Lisboa – 1 e 2 de fevereiro

Artigo da autoria de Ícaro Machado

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