Opinião
Futebol e Direitos Humanos: Quando a Paixão se Choca com a Corrupção
O futebol é, sem dúvida, o desporto mais popular do mundo, reunindo multidões em torno de jogos emocionantes e criando uma atmosfera única de confraternização. No entanto, à medida que grandes somas de dinheiro, sobretudo provenientes do Médio Oriente, inundam o mundo do futebol, paira uma sombra obscura sobre o desporto que tanto adoramos. Uma sombra que negligencia os direitos humanos e corrompe a sua essência.
A paixão que temos pelo futebol é inegável. Estádios, bares e casas enchem-se de adeptos emocionados em busca de momentos de pura emoção. No entanto, por detrás das festas e dos cânticos das claques emerge uma triste realidade. Países ricos em petróleo do Médio Oriente, que muitas vezes não respeitam os direitos humanos, usam o desporto como uma ferramenta de influência global, colocando o valor da vida humana em segundo plano. É neste contexto que encontramos a conexão negligenciada entre o futebol e os direitos humanos.
Nos últimos 20 anos, o futebol sofreu profundas transformações no aspeto económico. Países menos proeminentes no palco geopolítico usam o desporto como um meio de promover as suas nações e enriquecer os seus cofres. Isso levou a um dilúvio de investidores de potências mundiais e a mudanças profundas na estrutura do jogo.
No entanto, esta transformação trouxe consigo uma hipocrisia que mina os valores fundamentais do futebol. O desporto, que deveria unir as pessoas em torno de causas humanas, vendeu-se a nações que, por vezes, ignoram essas mesmas causas. A Rússia, que anexou a Crimeia em 2014, foi escolhida como anfitriã da Copa do Mundo de 2018. A FIFA, a entidade máxima do futebol, atribuiu o Mundial de 2022 ao Qatar, um país com sérias preocupações em relação aos direitos humanos, especialmente em relação às mulheres e aos trabalhadores migrantes. A questão dos direitos humanos, as condições de trabalho e o impacto ambiental nas instalações de infraestrutura foram relegados a segundo plano.
A atribuição dos Mundiais à Rússia e ao Qatar levantou dúvidas sobre a integridade do processo de seleção, alimentando a desconfiança e a suspeita de corrupção. A FIFA, uma organização que deveria ser guardiã dos valores do futebol, parece negligenciar as questões humanas em favor dos lucros.
Para agravar a situação, assistimos ao recente fenómeno da Arábia Saudita, que, à semelhança da Rússia e da China, realizou investimentos milionários na aquisição de jogadores estrangeiros de renome, como Ronaldo, Neymar e Benzema. Estes investimentos visam elevar a liga saudita a um patamar global. No entanto, a intervenção governamental nos clubes é evidente, levando a uma politização do futebol que obscurece as questões de direitos humanos.
Falo como adepto de futebol e como estudante de relações internacionais. O futebol, que deveria ser uma força promovedora de valores éticos e morais, tornou-se uma distração para as violações dos direitos humanos. À medida que o mundo se volta para o campo, as preocupações em relação à liberdade de expressão, igualdade de género e outras questões essenciais são relegadas a segundo plano.
O futebol é mais do que um jogo; é um fenómeno global com um impacto profundo na sociedade. No entanto, a paixão pelo desporto rei não pode cegar o nosso bom senso para as problemáticas da corrupção e as questões de direitos humanos que o envolvem. A atribuição de futuros Mundiais, como por exemplo à Arábia Saudita, apenas reforça a necessidade de reconectar o futebol com os valores humanos e da justiça, que, em última análise, são a essência do verdadeiro espírito desportivo. Infelizmente, nos dias atuais, esses princípios estão cada vez mais esquecidos.
Artigo da autoria de Alexandre Ribeiro