Opinião
Ainda sabemos viver?
Qual foi a última vez que estiveste presente sem estar preocupado com gravar o momento ou arriscaste conhecer um local, ou até mesmo uma pessoa, sem antes ir procurar informações nas redes sociais?
Se é algo que fazes frequentemente, ainda bem, mas este artigo não é para ti! Para os que raramente fazem isto, sabias que passamos cerca de 10 horas por dia ‘online’, enquanto perdemos o que se passa à nossa volta?
Com isto, não quero dizer que a internet e as redes sociais não são uma ferramenta muito importante e veio democratizar o acesso à informação, independente do local onde a pessoa viva e as condições socioeconómicas. No entanto, com tanto acesso à informação, é mais difícil sermos surpreendidos e vivermos uma experiência sem saber algo sobre ela de antemão.
Por exemplo, ao escolhermos ir a um concerto, já vimos vídeos de performances anteriores e, durante o evento, estamos mais preocupados em gravar o momento, não apenas para guardar a memória, mas também para publicar e mostrar que estivemos lá.
Passámos muito tempo nas redes sociais a mostrar apenas os nossos bons momentos, criando uma faceta nossa que não é 100% real.
Por outro lado, como muito do que fazemos é gravado ou fotografado, temos mais medo de fazer algo que chame demasiado à atenção, já que o momento vai ficar registado eternamente. Isto verifica-se principalmente nas gerações Z e Alpha, que já cresceram com a internet.
Assim, além de ser difícil sermos surpreendidos, como queremos encaixar no padrão do que vemos nas redes, seja padrões de beleza ou de estilo de vida, deixamos de viver como queremos e passamos apenas a seguir o rebanho. Como estamos focados nisto, perdemos o contacto com o que se passa à nossa volta e podemos ficar mais alienados da realidade e tendo apenas como objetivo moldarmo-nos de forma a nos encaixarmos no padrão para fazer parte da comunidade.
Mas, como nem tudo são desvantagens. Podemos virar o bico ao prego e usar as tecnologias ao nosso favor. As redes sociais podem servir para nos educarmos e para aprendermos sobre o que se passa, ao mesmo tempo que podem mobilizar várias pessoas para apoiar uma causa ou para lutar contra as injustiças e violações de direitos humanos que estão a acontecer neste momento e que temos acesso através das redes sociais, furando assim a realidade que muitos media tentam construir.
Por isso, podemos usar as redes sociais para criar inquietação e tornar o mundo num lugar mais justo. Assim, “o que é preciso é criar inquietação” (Paulo Freire), arriscar e estar atente ao que se passa ao nosso redor para vivermos realmente.
Artigo da autoria de Inês Amorim