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Opinião

A Cultura Desportiva em Portugal: A Urgência de uma Transformação

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Imagem: Mateusz Dach (Pexels)

Com o decorrer dos Jogos Olímpicos em Paris 2024, Portugal terá 73 atletas em 15 modalidades, onde irá tentar igualar ou fazer melhor do que nos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020, onde conseguiu a sua melhor marca de sempre com quatro medalhas. Este facto faz-me pensar novamente em algo que me preocupa: o nosso país tem um enorme potencial em termos desportivos e deve usar isso como um porta-estandarte. Se queremos falar em cultura desportiva, temos que falar de investimentos, começando pelos mais novos e promovendo, nos media, um maior destaque a outros desportos.

Não podemos pedir muitas medalhas aos atletas portugueses, porque, infelizmente, embora tenham muito talento, não possuem as condições desportivas de treino que outros países têm. Portugal é um país apaixonado pelo desporto, desde a prática do futebol e da natação, passando pelas pistas de atletismo. No entanto, é imperativo reconhecer que a nossa cultura desportiva precisa de uma mudança profunda e significativa para acompanhar o desporto internacional num país onde o futebol apresenta dominância no panorama nacional e reflete uma imagem de marca do desporto português.

A Dominância do Futebol e a Atenção Mediática

Todos sabemos que Portugal é um “país de bola”; tradicionalmente, sempre foi assim. Os êxitos internacionais das seleções nacionais e o estatuto dos jogadores portugueses elevaram o futebol a um estatuto quase sagrado. Contudo, esta hegemonia tem um custo. A concentração de recursos e a atenção mediática resultam num claro exagero de programas futebolísticos, muitos deles trazendo toxicidade à modalidade. Nos principais canais portugueses, basta ligar a televisão durante o dia para percebermos que se fala demasiado em futebol.

Os investimentos no futebol deixam outras modalidades desportivas à margem. Desportos como atletismo, voleibol, râguebi, basquetebol e ciclismo, entre outros, lutam para obter o reconhecimento e o apoio que merecem. Muitas destas modalidades vivem no amadorismo, onde os atletas não conseguem viver do desporto, tendo a sua profissão e o desporto como passatempo. Muitos atletas olímpicos portugueses alcançam grandes resultados desportivos quando as próprias federações e o Estado não oferecem condições básicas para a prática do desporto e o reconhecimento do mérito. Exemplos disso são o canoísta olímpico e medalhista Fernando Pimenta, o tenista João Sousa, o judoca Jorge Fonseca e a atleta Patrícia Mamona, que têm sido críticos da cultura desportiva portuguesa.

Desporto Escolar e Formação de Base

Para que a cultura desportiva evolua, é essencial investir no desporto escolar e na formação de base. As escolas devem ser centros de excelência desportiva, promovendo a prática regular de diversas modalidades, algo que, na minha opinião e experiência pessoal, não acontece. O desporto não deve ser apenas uma unidade curricular ou um “enche-horários”. As mudanças começam pelos mais pequenos, e essa mudança trará vantagens, dado que o desporto promove a meritocracia, a recompensa pelo esforço, a inclusão social, que é cada vez mais importante nos dias de hoje, e contribui para o desenvolvimento físico, mental e social dos jovens.

Sustentabilidade e Infraestruturas

A construção e manutenção de infraestruturas desportivas sustentáveis é um grande desafio que não pode ser ignorado. Para existirem boas infraestruturas desportivas, é necessário investimento estatal para garantir que tenhamos espaços adequados para a prática desportiva e para formar e reter bom talento. Além disso, é necessário promover uma gestão eficiente das instalações existentes, assegurando que sejam utilizadas de forma equitativa e contínua.

Conclusão

Portugal tem de mudar severamente a sua política desportiva, começando pela instrução da sociedade, um investimento mais robusto entre as federações portuguesas, investir na formação de base e usar o desporto como ferramenta de inclusão social. Apenas com estas mudanças poderemos construir uma cultura desportiva robusta, inclusiva e moderna, à altura dos desafios do nosso tempo.

Artigo da autoria de Alexandre Ribeiro

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