Devaneios
cena 28
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Neptuno abre os olhos
e a televisão morreu-lhe nos braços
em Marte uma federação
galáticos
em Nabokov
uma saia de estilo
e haverá uma arma
se o ator assim quiser
haverá um
derrame cerebral e
uma epifania
haverá a multidispersão
e obviamente
não podendo ignorar o que já foi dito
resta apenas observar
e uma voz de estanho e fel
coberta de um odor púrpura
é uma manta fúnebre
da percussão hilariante
e de um silêncio
um atrevimento
de contrariar o festival da vida
o patrocínio do contrato
e no escuro
amaldiçoaram-me as cores
e as visões
de desfoque crescente
mandam calar
CALA-TE
e as trémulas mãos da desinfeção
num gesto intolerável
repetem as lamúrias
mãos carpideiras
empregadas da obscenidade da materialidade
e do transporte do corpo
em total relaxe
numa
conjunta cascata
que nos despeja cada vez mais
e vem o gato
e vem a ave
e vem a nave
e vem o medo
e vem o vento
e vem a sorte
e vem o gato
atrás da morte
e vem a chuva
e vem a pessoa que despejou o óleo no rio
e vem o fantasma barbudo que não nos larga
e havemos de perceber,
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