Artigo de Opinião
O ChatGPT sabe de tudo, mas não entende nada
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Parece mentira, mas existe uma plataforma capaz de responder tudo que você questionar. Qualquer dúvida pode ser tirada, em tempo real, sobre quaisquer assuntos que (des)norteiam, assolam e assombram o mundo contemporâneo e as mentes mais inquietas ou não!
— “isso é tão black mirror”.
A “ferramenta” me faz até lembrar do sabugo de milho falante da literatura de Monteiro Lobato, mas é AI: Inteligência Artificial. E isso deveria ser, pelo menos, preocupante. Mas parece que não é. É só mais uma maneira do gênero humano criar narrativas sobre o mundo… digital. A biografia de nossa destruição enquanto seres orgânicos, começando a ser escrita pelas máquinas. Lendo assim, tem até poesia nisso.
No evento de receção desse mesmo jornal — o ritual de boas-vindas dos alunes e futuros colaboradores —, justo nesse dia, na dinâmica de “socialização”, o baralho (dinâmica de grupo) da vida me fez discorrer sobre o ChatGPT. Curioso. Confesso que se tratava do meu primeiro contacto com a ferramenta que, com a necessidade de uma apresentação floreada, já até tem o seu prestigio, mas tá longe de ter uma áurea, embora quase faz um arte enquanto brinca de se aprimorar.
Na sugesta, eu deveria decidir se era bom ou ruim. E me lembro bem de ter escolhido “apocalíptico”. Alguns poucos argumentaram junto comigo, mas teve gente que chamou de futuro. A ciência tecnológica que produz lucro para o capitalismo e que só faz a gente ter de correr sempre mais:
um futuro onde o humano é cada vez mais descartável, ocupando um lugar na sociedade do desempenho positivo que segue alicerçada na individualidade capitalista do ser autêntico [ dentro de todas as ofertas de autenticidades que o capital fornece para que sigamos na nossa performance narcisista que agora deve também lutar contra a inutilidade humana, abraçando-se a futilidade. pronto, respira! ]
raso e fútil
O ChatGPT é um modelo de linguagem treinado com um enorme conjunto de dados e usa algoritmos de aprendizado de máquina para gerar respostas aos usuários. É importante notar que, embora o ChatGPT seja muito avançado, ele não é uma pessoa real e não tem consciência própria. Em vez disso, o modelo usa informações e padrões aprendidos em seus dados de treinamento para gerar respostas como essa dada a mim, quando questionei “por que devemos confiar no chatGPT?”.
É tudo questão de tempo. Não é exatamente sobre saber o que responder, mas sobre a velocidade de se obter a resposta esperada. Afinal, tempo é dinheiro. E se a inteligência trabalhar de graça, 24 horas por dia, sem questionar, melhor!
A verdade é que todo avanço tecnológico é violento com o humano. É o preço que se paga para se alcançar o futuro. E isso me faz querer questionar: quantos caracteres cabem no meu?
A evolução tecnológica está cada vez mais rápida e isso implica em deixar algumas gerações para trás. Ou seja, muitas pessoas no mundo todo que — surpresa! — não se resume apenas a Europa Continental, encontrarão ainda mais dificuldades para acompanhar e se adaptar. O mundo é desigual e o impacto de algo tão poderoso como a gestão, manuseio e aplicação de uma inteligência artificial é, no mínimo, “apocalíptico” — ela insiste no argumento dela (risos).
Darwinismo Social: a seleção natural do mundo não teve de ser naturalizada dentro dos moldes facista-extremista-golpista-neoliberalista-capitalista-comunista, resumindo, colonizador.
Quando a sociologia passou a ser considerada uma ciência tida sociais, o positivismo ativou o pensamento “idealista-disruptivo” da humanidade das coisas e os estudos sociais do mundo se ancorou nos métodos científicos, então Émile Durkheim trouxe o suicídio como ato social, Max Weber construindo uma “humanidade” que se relaciona entre si a partir da ação social, e Karl Max “definindo” o mundo como uma grande maioria muito ocupada em ser infraestrutura para sustentar a superestrutura: temos as lutas de classes sociais.
E eu poderia passar horas aqui escrevendo sobre isso, mas essa invocação é para te fazer pensar sobre o mundo além do teu. Aqui, tenho de ser breve para não perder a tua atenção. Por isso, exercitando a maiêutica, que é para não dar essa viagem como pedida, pensemos:
Na Era da Fake News, quem não vai dar uma disparada nos grupos de WhatsApp usando o ChatGPT para fundamentar as suas pós-verdades?
Só o homem é capaz de dançar, mas prefere ficar parado
Sabe quem lembra o ChatGPT? Os jornalistas da atualidade. A diferença é o tempo de processamento: só temos 1 core e a nossa memória de execução é substancialmente orgânica. Mas o mercado espera de nós, então nos desdobramos.
[ transe ]
Afinal, somos demasiadamente humanos. E crescer talvez signifique tornar-se cada vez mais homem, digo, aprimoramento do gênero humano. Afinal, acreditamos que perdemos a nossa classificação de animal com o passar do tempo e, com ela, todas as desculpas que justifiquem as nossas ações, então motivadas por razões biológicas — moralidade, diz-se.
Nos distanciamos de nossos instintos animais e nos classificamos dentre as definições sociais disponíveis: o tal papel social. Nisso, resinificamos o nosso nome — sim, aquele que não escolhemos —, e qualificamos as nossas habilidades, certificando-as, claro! O gênero humano ama um papel com seu nome escrito — leia-se imortalidade. E nesse processo de busca do eu [ versão filosófica da coisa ] nos afastamos do início, atravessando à tumulto o tempo, sempre pensando em como será o nosso já saudoso fim.
E nisso, esquecemos que dançar é coisa do bicho-homem. Que o tato é o prêmio do abraço e que a felicidade só é verdadeira quando compartilhada substancialmente. São as 21 lições do século 21 que Yuval Noah Harari indicou tão sabiamente em seu livro que me fazer rever a vida. Tem muita coisa acontecendo e vamos enfrentar uma grande “inutilização do humano”, ele disse.
Será o futuro uma grande destruição e você não deve olhar para cima?
Eu não estou aqui para te dar a minha opinião. Eu quero que você pense na sua. Isso porque, apesar de todo o seu desempenho computacional, o computador é burro, na medida em que lhe falta a capacidade de hesitar (Sociedade do Cansaço, HAN).
Artigo da autoria de Ícaro Machado
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