Crítica

COMO SE ENCENA UMA QUEDA

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O cinema e o universo que o envolve sempre me fascinaram. Portanto, não é surpresa que a época dos Óscares me deixe entusiasmada como uma criança a ver publicidade de Natal.

Este ano em particular, iniciei a minha digressão pelos filmes nomeados com o indicado a cinco óscares: “The Big Short”, ou, se preferirem, “A Queda de Wall Street”. O título português, por tão literal (e desinteressante, admito) que é, decompõe em cinco palavras o argumento do filme: a crise financeira de 2008 e o percurso daqueles que a anteciparam – e que decidiram lucrar com ela.

Comecemos pelas personagens: Christian Bale, indicado a melhor ator secundário, interpreta um inadaptado, muito pouco diplomático e altamente inteligente manager de um fundo de investimentos. Steve Carrell, por sua vez, encarna o inoportuno justiceiro que condena todo e qualquer ato da banca (se lhe perguntassem porque é que o chocolate é um sabor mais popular do que a menta, provavelmente responderia que Wall Street tinha a culpa). Ryan Gosling desempenha mais um menino bonito, mas, desta vez, um banqueiro que se confunde com o grupo de good guys e que serve de narrador e “descomplicador” da história. Brad Pitt, por fim, é um meticuloso antigo banqueiro, que desistiu do sistema para se dedicar à idílica vida campestre.

Mas, afinal, o que une estes personagens? A resposta está no facto de todos decidirem apostar contra a bem-sucedida e APARENTEMENTE estável situação do mercado imobiliário. Na verdade, através de uma análise algo intrincada, conclui-se que o que levou à queda da economia mundial foi o bando de promessas ocas que o banco empilhou, oferecendo casas e créditos a todo o “bicho careto” que os pedisse.

Deixo-vos um alerta: não se dirijam à sala de cinema prontos para um filme que desmonte e simplifique o complexo mundo de Wall Street. Pelo contrário, preparem-se para um certo esforço intelectual para acompanhar e encaixar todos os conceitos financeiros que são disparados de minuto em minuto. Contudo, peço-vos, não se acobardem! Apesar de a matéria tratada no filme estar provavelmente fora da zona de conforto de muitos, o delirante universo de Wall Street, as excêntricas personagens que o habitam e as frequentes pausas humorísticas e dinâmicas vão certamente deixar-vos espantados. Mesmo o espectador leigo (eu!), que não leu “A Riqueza das Nações” (eu!), vai certamente apreciar “A Queda de Wall Street”.

E se mesmo com as participações de Anthony Bordain, Selena Gomez e outras celebridades a destrocarem a complicada linguagem financeira, não entenderem patavina do que são os subprimes e os swaps, acho que a mensagem principal vai ficar: o fraudulento sistema bancário é o culpado. E Wall Street também! (e provavelmente vai continuar a ser…)

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