Crónica
AIMÉE
«Ele ainda era demasiado jovem para saber que a memória do coração elimina as coisas más e amplia as coisas boas, e que graças a esse artifício conseguimos suportar o peso do passado.»
Gabriel García Márquez
No passado dia 13 de Dezembro, assinalou-se um mês desde os atentados na cidade de Paris. Desde aquela noite de horror, muitos têm sido os testemunhos que têm surgido, alguns deles de coragem, outros de dor, perda. A banda que a 13 de Novembro tocava no Bataclan aquando dos atentados, Eagles of the Death Metal, deu o seu testemunho acerca daquela trágica noite, numa emocionada entrevista.
A humanidade das vítimas, retratada na voz do vocalista da banda, relembra-nos que apesar de estarem perante tal crueldade, há seres tão puros que nos fazem questionar como é possível haver tanto ódio quando, por outro lado, há tanto amor. Confrontados com a hipótese de deixarem os amigos para trás e salvarem as suas vidas, muitos escolheram ficar junto dos seus amigos e enfrentar o terror juntos, mesmo que isso significasse que a ténue hipótese que tinham de sobreviver ali se esvaía.
Enquanto Paris se erguia das cinzas, ainda com lágrimas no rosto, também a nível pessoal sofri uma perda, e quando a tragédia nos bate à porta de forma tão inesperada, é difícil reagir. Não existem palavras ou gestos que atenuem a dor, não há uma solução simples para todo o sofrimento que se sente. Há uma sensação avassaladora de impotência… porque não podemos voltar atrás; é-nos impossível mudar a situação em que estamos; e acima de tudo, vemos pessoas que amamos em profundo sofrimento e estamos incapazes de lhes arrancar a dor do peito.
Os momentos de tristeza e impotência quer em memória das vítimas dos atentados em Paris, quer em memória do sorriso que se apagou aqui tão perto ainda são demasiados para se fazer sentido da dor, mas, aos poucos, e com tempo, erguemo-nos.
Neste Natal, façam um pedido ao Pai Natal, a esse alguém de valor figurativo mas que nos aquece os sonhos em noites geladas. Peçam para nunca se esquecerem de viver. Para que vivam o hoje, o presente, o instante… sintam cada momento tocar-vos a pele. Para que não se arrependam de viver. Nunca.
Nota: O título desta crónica é o verbo francês «aimer» (amar) conjugado no pretérito perfeito, que, numa tradução simples significa amado, em memória de todas as vítimas dos ataques de Paris e do sorriso que recentemente se apagou mais perto de casa.