Crónica
BANIFESTANDO E OUTRAS PERIPÉCIAS NATALÍCIAS
– Maria, já viste aquilo do banco? Uma grande trapalhada! Isto agora é um a seguir ao outro.
– O quê Miguel? De que é que estás para aí a falar? Olha podes-me ajudar a decidir que prendas devo comprar hoje para esta lista de pessoas?
– Claro. Chocolates para todos.
– Ninguém faz negócio contigo no Natal!
– Contigo fazem de certeza, pela quantidade de nomes que aí tens.
– É Natal Miguel, temos de dar prendas!
– É Natal Maria, vê se pelo menos apareces ao jantar! Mas olha o que achas daquilo do banco?
A Maria já nem ouviu o que o Miguel lhe tinha dito, estava entretida com o seu smartphone. Via as lojas que já tinham promoções, quem tinha confirmado que ia lá a casa na noite da véspera (se não fossem nem tinha de se preocupar), os melhores preços nos hipermercados para fazer as compras… Estava uma roda viva a vida da Maria.
Como todos os anos, a Maria arrastou o Miguel para a cidade para fazerem todas as compras. Para ela, a confusão não era problema. Ela adorava os encontrões, as sacas presas nas pernas das outras pessoas, os transportes públicos à pinha, o trânsito e até a rapidez impessoal com que os funcionários das lojas tratavam os clientes. Já o Miguel, ele não gostava de nada disso. O Miguel gostava das luzes e só das luzes. Não aguentava aquela confusão da época e não continha comentários como: “Aposto que nem falas com ele no resto do ano”, “Sim sim, vá contra mim, a rua nem é larga nem nada!”, “Eu até tenho paciência e bom feitio, mas Maria, vamos abandonar que eu estou quase a arrancar cabelos!” e “Ainda dizem que há crise”.
Correram as ruas todas, o Miguel quase de arrasto, a Maria, extremamente entusiasmada. Já não sabia como levar tudo o que tinha comprado.
Quando chegaram finalmente a casa, os dois sentaram-se no sofá, completamente de rastos. Ligaram a televisão.
O Miguel finalmente ganhou coragem para continuar a conversa: “Ó Maria, mas ainda não me disseste o que é que achaste daquela confusão do banco…”
A Maria ignorou o Miguel e olhava atentamente para a televisão. Ele irritou-se, levantou-se do sofá e quase que gritou: “Possa Maria, podes pensar em coisas mais importantes do que prendas e compras de Natal?”A Maria olhou para ele e disse muito rápido, interrompendo a sua banifestação: “Ó Miguel, faz lá pouco barulho! Estou aqui a ver esta notícia do banco, já sabias disto?”
O Miguel riu-se da situação, comeu bolachas e postou um estado no facebook: “Feliz Natal Maria”.