Crónica
DISFUNÇÃO
Neste desorganizado mundo, abundam pistas sobre a ameaça do caos que brota por todos os lados com sinais de grande estremecimento. Suspensas do céu, grossas barras de ferro permanecem indiferentes à densidade da matéria, gotejando cristalinas águas desprendidas da insignificância das nuvens. Uma liana ou resíduo seco de vide acompanha este imponderável enferrujamento.
Pela vertical do infinito, emergem do chão altas chaminés que logo se curvam, inúteis, as entranhas negras de fuligem. Dos cristais das janelas das fábricas restam vagas caixilharias por onde a aragem se dissipa. Noutras, vidros em cacos, recortam-se transparências por onde a luz é apenas vaga claridade.
Sobra ainda o reboco esfolado das paredes. Os telhados e coberturas maiores cederam ao peso do inútil – desabaram. Persistem cumeeiras pontiagudas com seus frágeis remates, partidos uns, outros aguardando sorte igual. No oco dos pátios, preso por um fio, ficou um candeeiro só para fixar uma faísca breve de luz que logo deixará o globo ao seu embaciamento.
Ao longe, altos cilindros ecoam o vazio que os habita.
Afora estes desamparos, não há muito mais senão o rasto dos aviões, algum farrapo de nuvem que o entardecer ilumina e o horizonte que não tarda dissolver-se assim que a última luz deste dia deixar a copa das árvores, a parte mais macia desta visão.
É muito adjetivo, muita retórica do desencanto. Quantos bancos mais irão falir antes que a chaminé se desfaça em tijolos partidos?
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