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Crónica

ALMA DANADA

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«O preço de uma pessoa vê-se na maneira como gosta de usar as palavras. Lê-se nos olhos das pessoas. As palavras dançam nos olhos das pessoas conforme o palco dos olhos de cada um». Esta passagem da A Invenção do Dia Claro de José de Almada Negreiros citada na capa do “Manuel de Leitura” do al mada nada, assentou perfeitamente à personalidade de Almendra-Almada, essa persona simbiose de Pedro Almendra + José de Almada Negreiros. Almendra-Almada, comandante na vanguarda de uma tropa-troupe-troupeau, «soldados parados soldados cinzentos prà sombra soldados cinzentos meios nus de brim cinzento de chumbo redondo de forma com reflexos de lata ao sol cinzento impessoal de brim» (os fantásticos Momentum Crew!), mandado por Ricardo Pais à conquista da cenografia do Turismo Infinito pessoano – e isso para a prolongar, para a extravasar…

 … Extravagante, Saltimbancos, o texto escandalosamente fálico e a-dramático do «Poeta d’Orpheu Futurista e Tudo», texto que causou a apreensão do primeiro e último número da revista Portugal Futurista pela polícia, e que Ricardo Pais adaptou neste al mada nada.Caleidoscópio de uma alma dana, de um ser condenado ao (damnatus) por querer ser o Anti-Dantas…

 «… e grande rabo e crinas primitivas num exagero de formas pederastas de cavalo de circo e ar selvagem de procurar fêmea grossa e roçar o cio plas trincheiras num desejo de desvirgador a estender o focinho e relinchos à mistura coas obscenidades da soldadesca naquela inconsciência de brim que às vezes ri não porque haja pra rir mas porque não é proibido rir co cavalo a galope prà égua e já lá está o soldado de luva pra lhe pegar o sexo erecto e enfiá-lo nas ancas da égua numa ovação entusiástica com palmas e vivas e indecências…»

 … E sob os circenses bicos de acetilene, como sob «a dolorosa luz das grandes lâmpadas da fábrica» do comparsa Álvaro de Campos, era Almendra? era Almada? qual dos dois foi o performer do outro?