Crónica
“VAI JÁ TROCAR DE ROUPA!”
“Não saio de casa contigo nesses preparos!” ou “Nem sei para que gastas tanto dinheiro em farrapada!” são coisas que o comum dos mortais já ouviu da boca dos seus pais, especialmente durante a adolescência, aquela altura em que começas finalmente a definir o teu estilo pessoal — ou, pelo menos, a tentar.
Seja porque te vestes de maneira alternativa ou porque usas a roupa da moda, para os teus pais, nunca vais ter o estilo eclético que eles tanto idealizaram para o seu rebento. Ora vestes camisas que mais parecem as que a tua avó tem no armário e calças que a tua mãe usava quando andava grávida de ti; ora usas decotes quase até ao umbigo e saias que mais parecem cintos… Para os teus pais, nunca haverá meio termo.
Há dias, um amigo perguntou-me porque é que eu parecia sempre saída dum qualquer filme dos anos noventa. Pela entoação e pela minha posterior interrogação sobre se aquele era um comentário positivo, tive a confirmação: sim, era. Porém, acho que não é preciso ser-se o Nobel da literatura para imaginar (e, até, prever) a dramática reação da minha mãe, que prontamente o entendeu como pejorativo e me disse que, se não quiser ouvir comentários daqueles, me devo vestir “como toda a gente”. Porém, esta expressão aparece-me ainda em forma interrogativa, de cada vez que ela começa a bradar a todos os santos por causa da maneira como quero sair vestida de casa. E, para cúmulo dos cúmulos, vivo num meio pequeno, em que tudo o que visto é passível de ser comentado, de forma negativa, e as culpas são sempre atribuídas aos meus pais.
O problema aqui é que os meus pais me criaram para ser independente e especial, mas esqueceram-se completamente de tudo aquilo que vem por acréscimo a essas duas características que, tal como o estilo peculiar que fui desenvolvendo ao longo dos anos, se mostram cada vez mais raras nos dias de hoje. Visto roupa em segunda-mão, mas não fumo; uso batom preto, mas não bebo; quero pintar o cabelo de cor-de-rosa, mas trato todos com o maior respeito… Mas os meus pais, reflexo da sociedade, só olham para aquilo que vem antes do “mas” e condenam cada escolha minha, levantando tempestades se levo alguma avante sem a supervisão ou aprovação deles — esquecendo-se de que a maneira como me apresento é uma extensão do meu ser; e aquilo que estão a fazer é ir contra aquilo que sou.
Por isso, já aprendi: durante a semana, sou eu mesma, com toda a minha excentricidade e extravagância; durante o fim de semana, sou quem a minha mãe sempre quis que eu fosse, a Plain Jane, pãozinho sem sal, que não vira cabeças, nem por bem nem por mal.