Crónica

MODERNO RADICAL

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Desde que Frederick Taylor nos anos 1880’ se concentrou na engenharia do lucro através da organização metódica da produção e da gestão, estava inventado o taylorismo – os princípios científicos da organização industrial. Com base no estudo minucioso dos tempos e métodos de trabalho e da divisão fina do processo de produção em tarefas simples, sequenciadas e repetidas, e uma cadeia de gestos também simples e de operações de montagens até à finalização de um produto complexo fabricado em massa para uma economia eficiente, estava a função montada. Tempos modernos para o espírito novo. Henry Ford apurou e expandiu a fórmula, afinando a produtividade do sistema de produção em série de carros pretos e pagando salários suficientes para que qualquer operário da Ford pudesse comprar um carro. A produção em massa seria exponenciada pelo consumo em massa e estava inventada a felicidade do mundo, o fordismo. A engenharia industrial produziria uma engenharia social para o progresso da civilização e a racionalidade tecnológica seria a chave para a justiça social. O passado era para enterrar.

A arquitetura e o urbanismo modernistas, Le Corbusier também, está claro, acompanharam esta epifania tecnocrática. A estandardização, a produção em série, a universalização das técnicas, dos procedimentos e das soluções atingiriam a total eficiência comandadas por uma elite de técnicos iluminados. As cidades seriam radiosas e os blocos residenciais seriam máquinas de habitar tal como os aviões eram máquinas de voar – arquitetura ou revolução. Veio a depressão e foi-se a utopia por água abaixo.

Pelos vistos, está a fazer exercícios de ressuscitação. Do Porriño para o mundo vai uma casa de legos de granito imaginada da pedreira até si. O anonimato e a mesmice da construção em massa serão substituídos pela possibilidade de fazer escolhas infinitas baseadas na combinação de módulos simples – paralelepípedos de granito de dimensões normalizadas – e séries de elementos que se podem usar como colunas, balaustradas, remates, escadarias, chaminés ou tudo o que se imaginar. A tecnologia transformará a dureza do granito em manteiga gratinada. Adeus pedras toscas de muros com buracos.

Os que martirizaram o gosto de quem construía fora dos cânones da maneira erudita e das regras da arte, bradando aos céus pelo mau gosto, pelas maisons e por outros disparates tais de quem usa o fino gosto para ofender o outro chamando-lhe grosso, esqueceram-se de que tanta pregação e defesa das boas e velhas casas de pedra (desgraçados tugúrios esteticizados por quem lá nunca habitou e de onde fugiram os que emigraram), acabaria por favorecer qualquer mercado de granitos entretanto transformados em fetiche tradicionalista para a boa e sólida construção. Depois, os mesmos chamaram pós-modernas a estas casas. Enganaram-se novamente – tolos uma vez, tolos para sempre. O que aqui está é mais um passo da sobremodernização: tecnologia, racionalidade e mercado ao serviço dos humanos, animais sociais de gostos variados e inconstantes, apreciadores da diferença, acrobatas do equilíbrio difícil entre distinção e normalização, diferença e repetição, partilha e individualismo.

É assim o mundo e as casas não são máquinas.

(foi confusão com a casa das máquinas)

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