Crónica

FRENTE A FRENTE

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O ambiente estava tenso. Depois de cerca de 25 minutos de viagem, estavamos, por fim, frente a frente.

Olhei-a com fervor. Nela consegui ver-me, vi a minha raiva, a minha pressa, a minha frustração e ansiedade. Sabia que ela transparecia tudo o que eu não queria ver.  Mostrava-me aquilo de que tentava fugir. Mas tive de a encarar, porque já ansiava este momento há muito tempo. O momento em que a luz do sol me enradiaria em esplendor, a brisa me bateria na cara e seria livre de me dispersar para convergir e encontrar-me.

Ela era o obstáculo.

Esperei com atenção até que o transporte parasse. Ponderei cada segundo da minha vida, cada esquina que cruzei, cada pessoa com quem falei, até aquele momento. Pensei na minha mãe e no meu pai, no meu irmão e nos meus cães. Pensei em todos aqueles que me esperavam. O meu coração parecia um atleta russo em triplo salto – pirueteava-se no meu peito e bombeava o sangue que nem um campeão. O suor começava a brotar do meu rosto de forma discreta, mas reluzente. As mãos gelavam-me e os joelhos tremiam-me.

Era agora e eu sabia-o. Ela também.

Primeiro parou o autocarro. Depois o meu coração. Estávamos ali eu e ela. Aqueles vertiginosos 4.5 segundos pareciam horas de dor e sofrimento. Ela abriu-se e eu consegui sair.

Só Deus sabe como me aflijo quando a porta não abre e tenho que derrubar o meu Kilimanjaro da timidez para pedir ao senhor motorista para me abrir a porta.

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