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Crónica

CARTA SOBRE O HUMANISMO

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Como estudante de Filosofia, se há algo que aprendi é que devemos saber distinguir sumamente significados que são atribuídos a certos conceitos e, por isso mesmo, nas próximas linhas, vou escrever-vos sobre «refugiados», entenda-se, pessoas que fogem do seu país, da guerra, do terror e da violência, em busca de esperança, e não de «migrantes» como tem muitas vezes vindo a ser referido.

Chamem-lhe campo de refugiados, mas, pelas imagens e testemunhos que nos têm chegado, a diferença para campos de concentração do século passado não é muita. Atirar comida e água para que lutem para saciar as necessidades básicas é um horror que nenhum ser humano devia enfrentar às mãos de um outro ser humano. É verdade que não têm as câmaras como os campos de concentração tinham, mas têm algo em comum e igualmente fatal: xenofobia.

A recusa em apoiar os refugiados, em negar-lhes as necessidades básicas, não nos diferencia em nada dos nazis. Não raro dizemos que, dada a oportunidade, teríamos parado o movimento nazi e salvo todos os judeus assassinados nos campos de concentração. Pois bem, a Europa encontra-se novamente perante um cenário de guerra e violência e a resposta tem sido desumana.

Depois dos atentados em Ankara e Istanbul, e do silêncio que se fez ouvir nos dias que se seguiram, o nevoeiro começa a dissipar e começamos a ver a situação com mais clareza. Foi feito silêncio de facto, mas isto porque não se fizeram ouvir as vozes de solidariedade para com o povo turco, o silêncio não foi de luto, mas antes um silêncio de algo que passou quase despercebido. A xenofobia europeia para com os povos do Oriente não acaba com os refugiados que lhes pedem ajuda, mas alarga-se também dentro das suas fronteiras.

Infelizmente, os últimos acontecimentos, quer a nível de terrorismo, quer a nível de direitos humanos para com estes mesmos refugiados, têm vindo a questionar-me cada vez mais a minha posição em relação à realidade. Cada vez mais penso que devemos unificar-nos num movimento para o Humanismo. Esqueçamos todas as demais conceções filosóficas e definamos este novo conceito: igualdade, sem divisão por raça ou género, porque antes de tudo somos Seres Humanos, iguais entre si mesmos. Talvez este conceito caia numa conceção existencialista de Jean-Paul Sartre em que a existência precede a essência, mas podemos aplicar em verdade o existencialismo a este conceito.

Quando nascemos, a nossa existência não nos afirma como Homem, Mulher, Cristão, Muçulmano. A existência apenas nos atribui uma única característica, sendo esta a de que somos todos Seres Humanos e esta característica é comum a todos. Só com a vivência adquirimos a nossa essência, isto é, nos tornamos Homens, Mulheres, Cristãos, Muçulmanos. Deste modo, invocamos o existencialismo como base deste novo conceito de Humanismo.

Assim sendo, como defendem os existencialistas, a existência precede a essência e, por isso mesmo, existimos como Ser Humano antes de nos tornarmos qualquer outra coisa com a nossa vivência empírica e, por isso mesmo, em existência como Ser Humano, somos iguais a nós mesmo, sem cisões.