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Crónica

ENSAIO SOBRE A LIBERDADE

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«Esta é a madrugada que eu esperava

O dia inicial inteiro e limpo

Onde emergimos da noite e do silêncio

 E livres habitamos a substância do tempo.»

 

Sophia de Mello Breyner Andresen

 

É de armas em punho e cravos nas campas rasas que hoje vamos celebrando a vitória sobre o medo e a opressão. Quanta hipocrisia de um povo que, uma vez a cada ano, lá se vai recordando dos seus heróis de um Portugal que se refez num Abril não tão distante, caídos nas teias do esquecimento quando não há pela rua a já célebre figura do sobrevivente do Estado Novo a segurar um cravo com plena gratidão da liberdade de que usufrui para o fazer. Essa é a verdadeira imagem da Liberdade, na minha opinião: a geração que viveu a opressão e que ostenta no cravo a gratidão de não mais ter de viver privado dos seus direitos como ser humano.

O cravo, desde muito cedo, representou para mim, um eufemismo monumental. Uma sociedade oprimida, privada dos seus direitos humanos mais simples, num regime político severamente tirano, que decide lutar pela sua liberdade marchando contra armas e canhões, levando nos canos das espingardas não ódio contra o regime, mas cravos. O cravo não só acompanhou a luta pela Liberdade portuguesa como também a marcha pela Paz nessa mesma noite, numa luta do Povo por este direito tão humanamente seu.

O acordo é bem simples: somos criados numa substância em equidade, isto é, seres humanos, iguais entre si. Quando há uma privação da Liberdade inata da nossa substância, é uma privação da nossa Humanidade. Na Filosofia, há a teoria de que a Linguagem é-nos inata e universal, isto é, todo o ser humano, independentemente do local do mundo onde nasça, possui a capacidade de falar e entender uma linguagem e esta é comum a todos. Defendo que também a Liberdade é inata e universal ao ser humano, pois onde quer que este nasça, independentemente do seu género ou posição social, deve ter o direito de ser livre, sem privações ou restrições.