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Crónica

ENSAIO DO MEU SER HUMANO

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Ponto prévio: não consigo lidar com a minha condição humana. Será algo que aprenderei neste ensaio? É de se considerar. Porém, exponha-se a apoquentação. É difícil de acompanhar a expectativa da responsabilidade à qual o ser humano está sujeito. Cortam-me as pernas antes que eu possa ambicionar ter asas. É assim. Caprichos de um destino para o qual pouco pude opinar.

Comece-se pela dimensão racional. Crio raciocínios, estruturo-os em redes de saber e de conhecer e lá as coloco no meu repositório mental. De quando em quando, lá me adjetivam de inteligente, de interessado, de curioso. Qualificações que pouco me valhem. São meros rótulos, palavras associadas a atribuições. Preocupa-se que o meu ego se deixe atrair por tais premissas. Coisas tão rasas. Para quando uma amplitude maiorzinha para que a minha alma se alegre?

É fácil cair na tentação de mesclar a alma e o espírito nestas lides da razão. Por isso mesmo é que vale a pena dissecá-los já. É fácil fundi-los. Alma e espírito, coisas metafísicas mas com tanta influência numa caraterização pessoal. No meio de tanta intriga, estou eu. Posicionado numa desordem com disciplina, com sentido, não deixada ao acaso. Quero crer eu. Deixo novamente o rastilho da continuidade. Do verbo acreditar, do conceito convicção.

No apogeu da minha inquietação, o refúgio na crença é o que se revela como mais apelativo. Quero respostas. Imediatas, coerentes, evidentes. Sem rodeios e que me esclareçam as razões de tudo isto. Para quê tanta ação, para quê tão desmesurada reação? Haverá algo mais depois de se assumir a personagem de ser humano? Tornar-me-ei em algo diferente? Algo pacífico ou paradisíaco? Conduzo o texto para estradas mais sensíveis e menos especulativas.

O sentimento. O ardor, a dor. Não só por mim, mas também pelo outro, pelo alheio. Aquele que me cobre as dívidas que deixo por serem liquidadas. Não em jeito de dinheiro, mas em forma de pretensão, de ambição. O desejo, esse cego, surdo e mudo ente. Segue somente uma primitiva pulsão. Uma daquelas para as quais nem a psicologia tem uma explicação devidamente preparada. O que se sabe é que é mais o que se exige de um segundo ou de um terceiro do que aquilo que pode a primeira pessoa fazer.

De um ensaio aparentemente formal se modelou desabafo estruturado mas informal. Em suma, não me seguro como ser humano. Acredito em tudo. Sinto tudo. Penso em tudo. Um tudo que só é transposto pelo que eu não conheço. Um tudo que não é o todo mas que me chega. O que me dita a sentença após tão académica defesa? Será que terão um olho extra apontado para o estatuto que tanto determina? Tento encontrar a saída desta escalar hierarquia. Um atalho, um portal. Algo que me torne intransponível, imortal. Algo que me arrefeça a escaldante e incessante brasa que me arrasa.

Por enquanto, convido-vos a participar neste drama com essência teatral. Este foi o ensaio final. Deixam-me a só neste monólogo ou será este o nosso diálogo?

 

 

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