Crónica
#NOFILTER
As redes sociais são um surto que explodiu e açambarcou todo o comum mortal, como se de cliques e posts fosse o Homem feito. Sem dar por isso, a humanidade inteira foi pescada da sua vidinha habitual e transposta para o mundo digital. Pensemos no Instagram por momentos.
Um jantar em boa companhia já não basta. Agora, o ideal é acrescentar uma série de acessórios aleatórios para adornar o prato de comida e fotografá-lo. Creio piamente que nunca se tentou que a comida fosse tão esteticamente agradável. (Retorquirão que os olhos também comem. Responder-vos-ei que, sendo assim, optem por ver o “Masterchef”.)
Infelizmente, a fotografia deixou de significar a recordação de momentos felizes e marcantes, mas passou a ser a confirmação de um determinado estilo de vida: roupa interior Calvin Klein, latte do Starbucks e destinos tropicais. Isso incomoda-me.
E, na sequência dramática até à publicação, surge uma outra coisa que me incomoda: o filtro – aquele amigalhaço que transforma todas as miúdas em bonecas de porcelana, com pele luminescente e lábios encarnados, e todas as paisagens em ambientes demasiado saturados.
Do ponto de vista de uma rapariga que só tem facebook para conversar de borla e para se atualizar quanto aos trabalhos da faculdade, tudo isto parece extremamente superficial. Mas talvez não seja assim tanto, porque também há quem partilhe fotos de sítios feios com pessoas tristes para tentar movimentar causas. Mas esse nobre grupo é uma minoria.
Perdoem-me a honestidade, mas prefiro-me sem filtros.
(Escrito ao som de “Basic Space” dos The XX)