Crónica

ANSIEDADE

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Porque nunca é fácil e perdes sempre que tentas, ao contrário do que te possam dizer. Porque nunca é “mais simples” quando visto de fora e não precisas de te desculpar.

Se a tua mãe existe é porque qualquer energia sobrenatural já contava que lhe tivesses que ligar para dar opinião no tipo de roupa que deves vestir para voltar a casa no fim de semana. Só ela sabe o estado meteorológico do dia seguinte corretamente e se as temperaturas entre Braga e Porto podem variar uns 10 graus celsius, ainda que sejam regiões vizinhas e tu não tivesses que dormir quando és assaltado por estas questões às 2 da manhã.

Como se não bastasse trabalhar para o IPMA, ainda que não oficialmente, também trata da tua contabilidade, especialmente quando chegas a meio da semana – um dia depois de teres voltado de casa – sem dinheiro para o papel higiénico que planeias comprar há 2 semanas. Lava-te a roupa suja e enche-te as marmitas – a primeira é lavada com o líquido da loiça e a outra é trocada por visitas, mais que frequentes, ao McDonalds quando precisas de estender a semana fora de casa. É o preço da independência… ainda que forçada. Leva-te à paragem do autocarro 30 minutos antes do mesmo passar e panica contigo se o mesmo passa 5 minutos depois da hora marcada – a pressa é característica. Nunca me atraso e é isso que me preocupa – com a pressa de nascer quase que morria no parto, o que pode mesmo acontecer, um dia destes, dentro do autocarro conduzido pela senhora que faz menos curvas, na estrada nacional, que o TGV numa viagem inteira.

Só nos diferenciamos em pormenores. Nenhum gene dela que seja responsável pela socialização é dominante no meu caso, já que é a mais simpática e, para mim, é mais fácil ser o antissocial, ainda que ela me obrigue a entrar na conversa, a grande maioria sobre novelas. É preocupada e só tem a mania das doenças, o que significa que as urgências da vila servem 50% das vezes a senhora loira, histérica que traz o filho de 20 anos pela mão e pede um monte de P1 para análises ao sangue. Em pequeno caía a toda a hora, por isso o número cá de casa aparecia na agenda do posto médico. Os médicos conhecem-na pelo nome. O Red Bull já não nos faz efeito. Quando não andamos a mil, fazemos os outros andar, o que costuma resultar.

De resto, a ansiedade é explicada assim. Quando não me ocupo, deprimo. E é ridículo. Basta-me aquele rap manhoso do início dos anos 2000 e uns quantos compromissos atrasados. Se nada voar pela janela, dou a crise por ganha, porque, pelo menos, não preciso de comprar nada que tenha perdido durante a cena.

De outra modo, não é possível de ser explicada, porque a ansiedade é uma dor e “cada um que lide com as suas”… ou é aquilo que querem que façamos.

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