Crónica
A GLÓRIA DOS PARALÍMPICOS
Findam os Jogos Paralímpicos. Nesta semana e meia de desporto, não se celebra somente a virtude da atividade desportiva e de todos os sacrifícios inerentes a esta. Na essência, celebra-se a superação e a ascensão do ser humano para além dos limites impostos pela ciência.
Da debilidade nasce uma oportunidade. Tudo residindo no sonho, grande impulsionador da vida e da obra de todos nós. Porém, e neste contexto, multiplicam-se os desafios ao invés de se somarem. Como tal, a sua proporção torna-se quase imensurável.
Os Jogos Paralímpicos representam vitórias automáticas para cada um dos participantes. Um pouco à imagem dos Olímpicos, esplendor do desportista no evento mais notável de toda a atividade física. Todavia, une-se e converge-se a glória humana com a aspiração de afirmação a partir de um esforço redobrado. Quando o desejo comanda toda a vida, pouco é aquilo que se obsta e que impede que a História se concretize.
Do primeiro ao último lugar, campeões e inspirações. Levando o país de sua origem à glória, bradando para além do limite do corpo. Bem lá no fundo, todos nós estamos à vontade para cantar o hino daqueles que triunfam no pódio da nossa linhagem. Toda a anunciada miragem vê-se tão perto. Da mais remota idealização, perspetiva-se tão nobre criação.
Nas manchetes, enchem um canto. Por mais glória que obtenham, como se já a da participação não bastasse, não se excedem a isso. Será um dia o dia? Para quando o louvor merecido? Continuarão os aberrantes crimes e os escândalos dos donos disto tudo a promover o que é a imagem de um país? Seja ele qual for, é este o caminho que se pretende tomar? Serão estas as notícias que devem ser estampadas no rosto?
Bem sabemos que é diário e quotidiano o crime e a catástrofe, por mais silenciosa que seja. Estudos, pesquisas e investigações encetam e levam-nos a descobertas que intuitivamente surgem como evidentes. Todavia, contraste-se com a imagem da superação constante dos atletas que passam continuadamente pelos pingos da chuva, mesmo que esta não caia. Torna-se preocupante ignorar. Torna-se lamentável não denotar.
Para além de se cantar a nação, canta-se o espírito humano. Um espírito que está e que sempre estará disposto a capturar os seus sonhos, tornando uma fraqueza num elemento de clareza e de firmeza. Esclarecido o ser, o sonho fica ali tão perto. Mais perto do que nunca. No final, quando se corta a linha de chegada, entoa-se toda a história de superação, toda a epopeia de um ser humano que quis ir mais longe. Um exemplo, um retrato daquilo que todos podem ser enquanto avistam o desejo maior do que o receio ou do que a limitação. Eis o mote para encher uma manchete no tempo em que o trabalho, de suor e de lágrimas gera o fruto mais maduro e colorido. Uma história coroada com a glória de tornar a restrição em ambição e a condição em realização.