Crónica

HÁ SEMPRE UMA HISTÓRIA AO VIRAR DA ESQUINA

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Estou em frente ao meu entrevistado, acabei de lhe fazer uma daquelas perguntas que vai demorar uns minutos a ser totalmente respondida. Vai ter de tocar em vários subtemas para conseguir chegar onde quero que chegue. Olho para ele acenando a cabeça como que a dar um sinal de que estou a ouvir o que me está a dizer. E estou, para já. Os meus colegas de grupo fazem o mesmo. Está a falar-nos de desporto adaptado.

Enquanto fala do estigma que ainda existe em relação à prática desportiva para pessoas com deficiência, começo a ouvi-lo ao longe. Não está a ser uma seca, bem pelo contrário. Mas, de repente, começo a pensar em como aconteceu eu estar ali, naquele sítio, àquelas horas a fazer perguntas àquela pessoa. Pensei na oportunidade que o jornalismo nos estava a dar. “Fogo, se não fosse por sermos estudantes de jornalismo provavelmente nunca na vida iríamos falar desta forma com alguém que está inserido nesta área e que todos os dias se dedica a uma inclusão das pessoas deficientes”, pensava eu durante o tempo em que devia estar mais atenta ao que o meu entrevistado me dizia. Pensei também no quão enriquecidos saíamos dali. Eram 19h40, estava frio e já estava a chegar a hora do jantar. Mas éramos mais alguma coisa quando saímos dali.

Existem inúmeros temas, assuntos, projetos, iniciativas que tentam chegar às pessoas. As redes sociais ajudam e muito. Mas quando se quer uma investigação profunda, detalhada, abrangente, que conte tudo o que há para contar, aí entra o jornalismo. E ninguém faz esse trabalho melhor do que ele. Por isso sim, pensei na oportunidade que ele me dá de conhecer, falar e questionar pessoas que estão envolvidas em ações que podemos adjetivar de “incríveis”.

Há sempre uma história para contar ao virar da esquina. Mas existem demasiadas esquinas no mundo. O jornalismo percorre as que consegue e pode, escondido nas câmaras de vídeo, nas câmaras fotográficas, nos gravadores, nos microfones, nos tripés, nos blocos de notas, nas canetas, nos computadores. Nas pernas e braços, no corpo dos jornalistas e dos que ainda estudam para o ser.

Assim, há tanta coisa de nós que damos a esta profissão que não é bem nossa porque serve a todos sem exceção. Somos mortos de fome, andamos sempre cansados e com mil e uma coisas para fazer. Mas há histórias nas esquinas que precisam de ser contadas. E mais, apesar de tudo, existem aquelas alturas em que até se esquece a mochila pesada que temos nas costas enquanto falamos com o nosso entrevistado. Pensamos antes no quão sortudos somos por conseguimos estar frente a frente com pessoas e histórias que fazem valer a pena.

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