O ESTRANHO CASO DO SEXO MASCULINO

Começa a tornar-se num ciclo sem fim escrever sobre esta desigualdade em particular, sobre a Mulher no papel de alguém subjugado como «fraco», «não merecedor de», uma desvalorização que parece não ter fim.

Talvez quando escrevemos sobre isto estejamos perante uma utopia, uma vez que, mesmo dentro do sexo feminino existem pequenas guerrilhas que nos levam a ainda mais fraturas e fragilização do nosso, já frágil, papel na sociedade. Afinal, de que nos serve criticar a forma como uma outra mulher decide anunciar a sua gravidez, a carreira que decide seguir se o tão aventurado e anunciado “feminismo” é suposto ser o empowerment do sexo feminino e esse mesmo empowerment deve começar dentro do género com o encorajamento entre mulheres, das mulheres e para as mulheres.

A Mulher não quer retirar lugar ao Homem ou lhe tirar qualquer tipo de mérito. Apenas nos é devida uma oportunidade equitativa de formular uma opinião e tecer críticas com a mesma liberdade que o género oposto o faz com regularidade; a mesma validade de argumentos, pesada na mesma balança e sem usar o género como fator de qualidade de conteúdo.

Quando um eurodeputado pode proferir palavras de sexismo em público, é-nos exigida a reflexão «evoluímos afinal para uma igualdade entre géneros ou continuamos como há séculos atrás»?

Escrevo isto em mágoa pois fui chamada de «presunçosa» por apresentar uma lista de referências culturais que feriu certos alfas masculinos interrogando-se como uma Mulher pode algum dia ser alguma dessas coisas, ou mesmo influenciar-se em tais nomes para formar o seu carácter e identidades culturais. Nessas cabecinhas, (ainda!) a cultura da Mulher atinge o seu clímax nos livros de receita culinária. Todos os dias sinto o machismo de que sou inferior em qualquer que seja o aspecto, às vezes até me sinto uma Mulher inferior e que há homens capazes de serem mulheres melhores do que eu, tal é a presunção dos mesmos.

Porventura prestamos atenção a detalhes como o senhor Trump a ignorar um aperto de mão à senhora Merkel (e diga-se, quase a sua existência por completo) porque estes estão a ocorrer nas luzes da ribalta e é-nos quase impossível de não reparar em tais coisas quando tão bombardeados pela imprensa e outros meios de comunicação. Agora debrucemo-nos na realidade do quotidiano em que ainda muitos são os homens incapazes de olhar uma mulher nos olhos pois a consideram um ser de menor significância (pode parecer uma hipérbole descabida, mas não o é, posso falar por experiência própria pois é algo que me acontece quase todos os dias), ou até mesmo de sequer dirigir qualquer palavra à mulher. Como disse, isto já faz parte do meu quotidiano, e embora continue a incomodar-me ver tal complexo de superioridade, o certo é que já me consigo abster de tal comportamento rudimentar e primitivo e aceitar que haverá sempre homens que nunca vão conseguir evoluir cognitivamente para além dos nossos antepassados que viviam em cavernas. Resta-nos equacionar se não serão tão lineares em relação à descoberta do fogo ou para sempre vão comer os alimentos crus, pobres criaturas.