Crónica

O FALSO SENTIDO DA LIBERDADE

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É com frequência que se reivindicam os efeitos da luta sentida e massificada em relação aos direitos mais elementares de uma sociedade democrática. Pelo menos, em Portugal. No entanto, a exceção fora de portas é incomum. Aliás, ainda se luta com regularidade num país mais ou menos inclinado contra os desvios das premissas que as organizações internacionais a favor da paz, da justiça, e das liberdades nucleares de cada um. São desafios que permanecem sem um acordão que consiga ser unânime e que erradique os atentados a essas virtualidades.

No entanto, é importante denotar que a liberdade não se prende somente aos direitos sociais, mas também muito com os direitos de expressão e de criação. Muitas vezes, existem os limites éticos e sociais a impedirem que algo seja assumido de forma clara e inequívoca. Porém, o que mais interessa percecionar neste contexto é mesmo o teor desses limites. Serão exequíveis? Serão padrões justos para que o ser humano se possa exprimir, tanto individual como comunitariamente?

Muitas vezes, é difícil calcular isso. Para uns, existem linhas éticas que são, no mínimo, promíscuas. No entanto, para outros, muitas dessas linhas são tudo menos reguladores. Aliás, não seria estranho apelarem por mais restritas posições. Existem os dois pratos de uma balança, balança esta que não consegue bem definir o que é a liberdade, e muito menos avaliá-la a preceito. É complicado realizar balanços sobre a subjetividade de um valor. A liberdade é um valor. Mentes autocratas e conservadoras colocam-na de uma forma, assim como outras mais vanguardistas e liberais a visualizam de outra. No fundo, todos pugnam pela liberdade, nem que seja no auge de um discurso vazio e segmentado.

Também existem muitas crenças e doutrinas que, por mais que defendam a liberdade de cada um, acabam por a delimitar. São mais os costumes e as tradições a serem seguidas à risca do que qualquer outra coisa. Aquele que se afasta, e decide arriscar numa abordagem própria e personalizada, cai no risco de ser nomeado um herege. Quem diz doutrinas e crenças, diz também a autoridade conservadora e pouco progressiva de uma educação. Não havendo a apresentação de cenários experimentais para os mais novos, onde possam dar asas e colorido aos seus sonhos e fantasias mais audaciosos e curiosos, não há uma liberdade consistente para que alguém se formule livre. Começa desde pequeno, e acaba na velhice jovial e rejuvenescida, que é olhada de lado quando se aventura em experiências que intimidam os mais terráqueos.

No alto dos ares, saltam os jovens de alma, aqueles que representam a verdadeira liberdade. No fundo, ser-se livre não é mais do que sentir que tudo é possível. Tudo aquilo com que sonham, com que ambicionam, a que dedicaram enxurradas de suor e de energia, surge como a magnum opus da sua vida. No fundo, ser-se livre desprende-se de quaisquer ideologias, doutrinas, crenças e métodos científicos e artísticos. A liberdade começa na falta de limites, na equação de tudo e mais alguma coisa imaginável ou inimaginável, e na idealização da sua realização. Ser-se livre é algo que sistemas políticos e teorias sociológicas tentam entender, mas que não dá. Só o ser humano, no seu mais nobre e estimado traço, consegue entender aquilo que esta é. Num sentido cada vez mais mediatizado e matizado, a liberdade perde-se num sentido que, de não ter rumo, se apresenta como falso. Eis o falso sentido da liberdade, quebrado e malparado nos escombros da verdade que deixou de ser assumida.

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