Crónica

OS INIMIGOS IMAGINÁRIOS DE TRUMP

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No passado dia 29 de Abril, realizou-se uma antiga tradição anual nos Estados Unidos: White House Correspondents’ Dinner. Organizado pela imprensa que cobre a Casa Branca, este evento celebra a Primeira Emenda à Constituição dos Estados Unidos –, ou seja, liberdade de expressão e liberdade de imprensa – e conta com a presença do Presidente dos Estados Unidos desde 1924, exceto uma única vez em 1981 quando o Presidente Reagan estava a recuperar de uma tentativa de assassinato, e agora em 2017 em que Donald Trump simplesmente se recusou a aparecer.

Desde o início do mandato de Trump, pouco mais de 100 dias, que as questões de liberdade de expressão e liberdade de imprensa se têm tornado cada vez mais importantes, tendo havido um clímax nesta noite.

Neste jantar, a tradição mais famosa é o roasting do atual Presidente, ou seja, literalmente, fazer pouco dele na cara. Deste modo, o normal é o Presidente ouvir e rir-se, demonstrando à nação e ao mundo que nos EUA verdadeiramente existe liberdade de expressão, elemento essencial na fundação de uma democracia. Aparentemente, Donald Trump não é capaz de o fazer, preferindo organizar um comício, sendo este, claramente, um contra evento ao WHCD.

Este ano, devido à ausência do Presidente e da sua Administração, foi pedido ao apresentador Hasan Minhaj que evitasse piadas sobre os anteriores, pedido que este prontamente ignorou. Ironicamente, e como evidenciado por Minhaj, Trump, um homem que repetidamente exerce a sua liberdade de expressão pelo Twitter, recusa-se a reconhecer a emenda que lhe concede esse direito. Aliás, declara como fake news aquilo que não lhe convier e insulta, sem fundamento, as organizações de notícias que, segundo ele, estão em falência.

Ainda, Samantha Bee – apresentadora do talk show e noticiário satírico em late-night: Full Frontal with Samantha Bee – transmitiu em direto e ao mesmo tempo o seu próprio contra-evento: Not the White House Correspondents’ Dinner. O temo comum dos dois Jantares, para além das piadas políticas, foi a homenagem aos media, e da sua importância no clima político atual.

Fica assim claro que, a posição do jornalismo como o “inimigo do povo americano” é exclusiva a Trump e aos seus apoiantes, havendo muitos mais pessoas dispostos a defender a Primeira Emenda. E, no momento da escrita, a democracia terá apenas de se aguentar mais 1359 dias.

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