Connect with us

Crónica

A experiência tardia de um concerto

Published

on

Até 9 de outubro de 2021 nunca tinha ido a um concerto – fui a África e aos quatro cantos da Europa, mas nunca a um concerto (o que não é bem verdade, porque lembro-me perfeitamente de passar por um concerto do José Cid no Algarve quando tinha 6 anos, mas vocês percebem a ideia). Eu nunca tinha tido o prazer de comprar um bilhete para um concerto, nem sequer me tinha dado ao trabalho de procurar quando é que as minhas bandas ou artistas favoritos vinham a Portugal, porque “concertos” era um assunto que não passava pela porta da minha casa.

Tudo isto acaba por ser muito caricato, porque o curso que escolhi no secundário foi música, e eu até já tinha tocado em concertos, mas nunca consegui transmitir aos meus pais a importância da cultura e da experiência de um concerto.

No dia 9 de outubro, fui ao meu primeiro concerto. Foi em Lisboa, Alice Pheobe Lou, com abertura de Marinho. Estive a 5 metros de uma das minhas artistas favoritas. Honestamente, quem foi comigo falhou em avisar-me do calor de um concerto. Foi uma experiência sensorial como nunca tinha sentido. E emocional, porque todo o contexto contribuiu para uma lágrima camuflada de suor a meio do concerto.

No dia 19 de dezembro fui ao meu segundo concerto. Fui ver o Fernando Tordo à Casa da Música (vamos pôr de parte as recentes polémicas). Mais um momento mágico. “Natal em casa de Ary”, a forma como Tordo e Ary dos Santos criaram as imensas obras que fizeram. Sou fã ávida do trabalho dos dois e fascinada pelo 25 de Abril – como devem imaginar, eu, no meio dos senhores de meia-idade, estava nas nuvens. Um concerto extremamente intimista que nos dá uma ilusão daquilo que poderia efetivamente ser a sala da tia. Saí de lá com um sentimento de intimidade para com Ary dos Santos.

Ontem à noite, dia 01 de março, fui ao meu terceiro concerto – Metronomy, com abertura de Grove. Os Metronomy são a banda que eu ouço quando preciso de um boost de energia – o concerto foi a personificação de um café duplo. A abertura foi explosiva – a música de Grove senti no estômago. A de Metronomy senti no coração.

Com isto, e quase como uma “note-to-self” que se pode aplicar a vocês, leitores: é preciso prevenir uma gripe “pós qualquer concerto” e deixar o chá com mel pronto para o pequeno-almoço do dia a seguir.

Também nunca pensei que fosse dar tanto valor aos artistas que abrem os concertos, mas se calhar só tive muita sorte e foram todos (um total de dois) absolutamente incríveis.

Só começar a ir a concertos aos 19 anos dá-me um misto de revolta e gratidão – revolta, porque hoje sinto que me privaram de uma experiência completamente abismal, mas ainda assim, não sei se a tivesse tido anteriormente a valorizaria da forma que valorizo e, portanto, sou muito grata por poder desfrutar estas experiências tão intensamente.

Quando for ao meu primeiro festival comunico-vos.

Artigo da autoria de Maria Santos