Connect with us

Crónica

207 – MERCADO DA FOZ

Published

on

Desconhecidos — como de costume —, sentados, cada um em sua individualidade. O nosso ego não dava espaço para o outro: a barreira fora construída quando você decidiu sentar ao meu lado. O autocarro estava vazio. Não entendi ao certo por que insistia em fingir que éramos amantes, ou pior, que estávamos enamorados.

Estava tão gelado quanto as relações liquidas dos tempos modernos. A agonia de Eros. Esse nosso ar-condicionado que deixa tudo sempre muito frio… 

O trânsito seguia pela noite tranquila. O motorista guiava o percurso habitual: paisagens, igrejas, turistas e tal. Trivialidades. Era suposto que, mesmo lhes vedando os olhos, ele chegaria ao certo, no ponto, ao final da rota. Já estava maquinizado. Às vezes sorria. Às vezes permanecia calado. Talvez, quem sabe, até nos conhecesse. Esse percurso era tanto para mim, como para ele, um caminho marcado.  

Foi então que em uma curva — balanço que deu — quando os nossos corpos se tocaram em um breve movimento de pernas na tentativa de se esguiar um do outro — reverso balanço do amor —, e foi nessa impulsa cinesia que o desejei. Arrepiei todo na hora. Os meus headphones reproduziam The Killers e você acabara de colocar o seu.

E foi nesse instante que só consegui pensar em uma coisa: o que será que tocava em seu ouvido quando o meu corpo saiu de encontro ao teu?

Artigo da autoria de Ícaro Machado

Conteúdo multimédia por Inês Aleixo

Continue Reading
Click to comment

Leave a Reply

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *