Crónica

O ESTADO SOCIAL EXISTE EM PORTUGAL, PORRA!

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Daniela Silva Oliveira

Quando pensamos em 25 de Abril, o que nos vem logo à cabeça é uma única palavra: Liberdade. E, de facto, a Liberdade, nas suas mais diversas formas, veio com a Revolução dos Cravos, mas não foi só isto que o 25 de Abril nos trouxe.

O Estado-Providência é, sem qualquer dúvida, a maior conquista de Abril. Um Estado que se afirma como defensor do bem-estar social, que rege, em favor do povo, a economia, a saúde e a educação será por norma aquilo a que uma sociedade democrática deve aspirar. Ainda assim, agora que Portugal atravessou e ainda atravessa uma grave crise económica, diz-se à boca cheia que o Estado Social já não existe em Portugal, que o Governo, que deveria ser o responsável pelo cumprimento desse Estado Social, anda a roubar o Zé Povinho. O Zé Povinho anda a ser roubado e os ricos estão cada vez mais ricos. O Estado Social em Portugal perdeu-se, foi-se, desapareceu. Fazem-se greves e manifestações, desdenha-se, desdenha-se e é aí que a estupidez vem ao de cima.

Pois é, afinal parece que o Governo e esse demónio disfarçado de Coelho não andam a roubar os pobres. O quê, não andam?! Não, não andam. Muitos queriam que andassem, só e apenas, para comprovar toda uma teoria da conspiração, mas a verdade é que não andam. E basta pertencer-se a uma classe mais desfavorecida neste país para se perceber que o governo tem, sim, imposto medidas austeras, mas não é o pobre que está a sofrer com isso.

O Governo está, se formos bem a ver, a fazer o papel de um Robin dos Bosques. Anda a tirar aos ricos para dar aos pobres. Oh, a blasfémia que é dizer isto neste país agora! Somos incultos, somos Carneiristas, somos fascistas, somos a vergonha da sociedade. E somos também pobres. Nós, os pobres, não precisámos que viesse a crise para nunca sabermos o que é ir de férias, nunca sabermos o que é jantar num restaurante, nunca sabermos o que é ir ao cinema em família, nunca sabermos o que é encomendar uma pizza. Mas nós, os pobres, sabemos o que é uma família de 5 elementos viver com dois ordenados mínimos, sabemos o que é levantar às 7 da manhã para trabalhar e chegar às 7 da noite a casa, sabemos que o dinheiro não estica, sabemos desde pequenos o que é perder noites em branco, porque a nossa conta está com saldo negativo, porque a conta de luz já venceu há alguns dias, porque o carro tem de estar parado porque não há dinheiro para o seguro, porque não temos dinheiro para ir para a faculdade. Sabemos o que é não beber o café na rua, porque aquele dinheiro nos vai fazer falta para o pão. Sabemos o que é comer só sopa e sandes de queijo a semana toda. Sabemos isto tudo. E também sabemos que se há coisa que existe em Portugal, este país que todos desdenham, é um Estado Social que funciona. Sabemos que podemos ir ao médico e não vamos pagar, sabemos que o Estado garante que podemos tirar o curso que queremos, sabemos que podemos fazer Erasmus totalmente com bolsas do Estado, sabemos que o nosso abono aumenta de vez em quando e que se formos bons alunos no secundário recebemos um prémio de 1000 euros. 1000 euros que não servem para comprar tablets ou roupas da moda. 1000 euros que vão pagar a luz e a casa.

Em minha casa, nunca ninguém duvida que o Estado-Providência funciona em pleno. Vivemos no limite dos limites, não comemos bolachas de chocolate nem vamos a jogos de futebol. Sabemos que o país está mal, sentimo-lo na pele, sabemos que Portugal não é perfeito, que é, provavelmente, o país com mais cunhas por metro quadrado, que sofre de uma corrupção corrosiva, que os governantes não são os melhores, mas também sabemos que estamos a ser utilizados como arma de arremesso contra os únicos que nos protegem – os líderes que, apesar de tudo, não tiveram a perversidade de nos tirar aquilo que nunca tivemos.

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3 Comments

  1. Francisca Matos

    28/11/2014 at 01:38

    Diz isso a quem perdeu a casa ontem na Amadora, a quem todos os dias não tem dinheiro para comer, a quem não tem dinheiro para medicamentos, a quem tem de emigrar, a quem espera no corredor por uma cama de hospital. Ainda bem que o Estado tirou aos ricos, cada vez mais corruptos, cada vez mais ricos, para dar aos pobres. Isso vê-se todos os dias, nos escândalos mediaticos. Ainda bem. O estado social existe, mas está preso por um fio e torna-se menos social a cada dia que passa.

  2. Dalila Teixeira

    28/11/2014 at 02:34

    “O Governo está, se formos bem a ver, a fazer o papel de um Robin dos Bosques. Anda a tirar aos ricos para dar aos pobres. (…) sabemos que se há coisa que existe em Portugal (…) é um Estado Social que funciona. Sabemos que podemos ir ao médico e não vamos pagar, sabemos que o Estado garante que podemos tirar o curso que queremos”

    Ma o que é isto??! O JUP agora é utilizado como plataforma propagandística??! A menina Daniela sabe o tamanho das alarvidades que reproduziu neste artigo ou limitou-se, inocentemente, a ser caixa de ressonância dos comícios daqueles que designa como “Carneiristas”?

    Estou em choque! E acho que até me sinto envergonhada por tamanha massa acrítica.

  3. Sandra

    12/12/2014 at 23:55

    “Sabemos que podemos ir ao médico e não vamos pagar, sabemos que o Estado garante que podemos tirar o curso que queremos, sabemos que podemos fazer Erasmus totalmente com bolsas do Estado, sabemos que o nosso abono aumenta de vez em quando e que se formos bons alunos no secundário recebemos um prémio de 1000 euros. ”

    Quem me dera não pagar 20 euros cada vez que vou ao hospital.
    Quem me dera que o Estado ajudasse a minha mãe a pagar os milhares de euros para pagar a faculdade.
    Quem me dera que o Estado pagasse totalmente o erasmus.
    Quem me dera que a minha média de 18,5 me tivesse valido 5€, quanto mais 1000.

    Texto cheio de falácias. Ou bem que tens muita sorte, ou não vês o que se passa à tua volta.

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