Crónica
DEBILIDADE IMUTÁVEL
Para tomar uma decisão, absorvemo-nos num paradigma complexo repleto de problemas, enigmas e dúvidas. Criamos uma rede interligada de pensamentos incómodos que se reproduzem e colidem. A verdade é que o ser humano ao longo da sua vida tende a adotar certos comportamentos e valores que parecem não funcionar face a novas e inusitadas situações. Quando o fosso entre esse modelo valorativo e as necessidades de adaptação se torna acentuado, é altura de mudar.
O momento de decisão norteará os nossos comportamentos no futuro, o conformismo com a nossa posição. Devemos agir, decidir, retrair ou simplesmente mudar? A rotina pode tornar-se desesperante mas o medo de mudar é mais forte do que a vontade de novos desafios. Coisas simples revestem-se de obstáculos vincados, porque nos obrigam a sair da nossa zona de conforto e modificar o nosso conformismo com a vida.
Talvez este facto se relacione diretamente com a nossa configuração natural para procurar sempre o trilho mais curto, mais fácil e mais rápido. Criamos padrões de vivência que nos guiam pelas decisões, fazendo atalhos e mantendo o parâmetro de inalterabilidade como primeira variável a considerar.
Mas será o caminho mais complexo e logo o pior? A velocidade de reação que nos foi impelida pelo meio envolvente tende a ignorar os detalhes da deliberação final e a deixar uma lacuna entre a reflexão e a conclusão. Será a decisão certa a mais simples e a que se adequa à nossa zona de conforto ou deveremos lutar contra o conformismo e arriscar a possibilidade de mudar? Alterar o decurso normal das coisas compele-nos a adotar uma postura de renovação e a observar variáveis que anteriormente não se colocavam.
Será através da permanência e da inalterabilidade dos princípios na sociedade que esta evoluiu ao longo do tempo? Coloca-se então a questão: se todos os seres humanos visionários ao longo da história tivessem ficado satisfeitos com a informação já conhecida, alguma vez poderíamos ter tido acesso a tantas novas conquistas? Nicolau Copérnico nunca poderia ter levado a sua avante (ou talvez apenas idealizado as suas teorias) se tivesse uma barreira nos seus pensamentos. Até então, ainda éramos seres egocêntricos que colocavam a Terra como o centro do Universo. O pobre Thomas Edison não se teria dado ao trabalho de inventar a lâmpada elétrica e de revolucionar o mundo contemporâneo. O objetivo de implantar novas ideias numa sociedade precariamente incapaz de racionar e de colocar hipóteses, dúvidas e soluções seria completamente inútil.
Será uma transgressão tão grave sonhar com um mundo constituído por uma amálgama de diferentes opiniões e de formas de vida? Será a diferença de tal forma inaceitável que o ser humano se considera igual aos demais? Será o acomodamento aos costumes a forma correta de viver?
Uma reduzida parte da sociedade é diferente do resto do mundo porque possui ideais demasiado revolucionários para o atraso onde se vê inserida. Mas as poucas pessoas que ainda se desviam dos preceitos atuais são o início de uma reviravolta mental e do nascimento do verdadeiro equilíbrio global.