O MUNDO ENCANTADO DA DISCRIMINAÇÃO

Carolina Campos

Existem dias na minha vida em que me ponho a pensar em tudo o que está mal no mundo. Curiosamente, esses dias acontecem quando o céu está azul e as preocupações são escassas.

Hoje, ao céu azul e às preocupações escassas, junta-se a gripe e o dia Internacional da mulher.

Sendo mulher, sempre me mantive atenta à minha condição na sociedade em que vivemos. Mas quanto mais investigo mais desalentada fico.

Já James Brown dizia que este é um mundo dos homens, no entanto seria de esperar que aquilo que se dizia em 1966 viesse a mudar drasticamente em 2015. A mudança chegou com o passar dos anos mas não o suficiente para se dizer que as mulheres conseguiram finalmente o estatuto de igualdade por que tanto lutam. Ao que parece, vivemos todos no mundo encantado da desigualdade no qual não importa quantas vozes se tentam fazer ouvir ou quantos movimentos se criam para acabar com a velha história da luta dos sexos.

Também relacionado com esta temática, está o dia internacional da mulher e a hipocrisia que o rodeia. Como mulher, incomoda-me o facto de ser apenas neste dia que se valorizam as mulheres. Este dia devia acontecer todos os dias e não apenas uma vez por ano.

Eis o que mais me incomoda: Uma vez por ano, as cadeias televisivas vão buscar as histórias mais tocantes sobre aquilo que apelidam de “super mulheres”. Neste dia, fala-se do jantar das mulheres em que, para quebrar a rotina, são os homens que cozinham. De facto, não consigo pensar em nada mais insólito. Fala-se nas mulheres que sofrem de violência doméstica, nas mulheres que cuidam dos seus filhos sem qualquer tipo de apoio e nas mulheres bem-sucedidas. Mas então e nos outros 364 dias do ano? As “super mulheres” do dia 8 de março são as “super mulheres” do dia 8 de Dezembro e o seu papel na sociedade nada muda e lá terão que esperar mais um ano até as suas vozes terem mais algum tempo de antena.

Se, de facto, houvesse igualdade entre os géneros, este dia nem precisava de existir e as histórias das mulheres guerreiras iriam ser contadas quando precisassem de ser contadas. Não deveria ser preciso ter um dia em específico para sair com as amigas ou simplesmente celebrar o facto de se ser mulher e ter orgulho nisso.

São dias como este que nos apercebemos que realmente vivemos na hipocrisia de celebrar uma coisa que está longe do alcançável. A realidade é dura e difícil de mudar, mas difícil nunca quis dizer impossível. A parte da sensibilização está concluída, agora falta agir! “As super mulheres” merecem. Todas nós merecemos.

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